Os resultados das análises ainda não são conhecidos, mas o Hospital CUF Descobertas, na zona do Parque das Nações, em Lisboa, admite que o foco do surto de legionela – que até à hora de fecho desta edição tinha provocado quatro infetados – seja no interior do próprio hospital, mais concretamente na rede sanitária de águas quentes. Se este cenário se comprovar, todos os doentes que tenham estado internados neste hospital, pelo menos nas duas últimas semanas, estão em risco de terem contraído legionela, sendo previsível que o número de infetados possa vir a aumentar.
Horas depois de ter sido lançado o alerta de surto, o diretor clínico adjunto do hospital, Paulo Gomes, falou em conferência de imprensa para anunciar que os banhos foram suspensos e para garantir que estão a ser adotados “todos os tratamentos necessários para resolver uma possível contaminação”. O responsável disse ainda que “foram efetuadas colheitas e amostras em todo o hospital” cujos resultados serão conhecidos “em breve”. Mas Paulo Gomes admite que o foco poderá estar “nas águas quentes sanitárias, e foram tomadas todas as medidas e o tratamento realizado como se houvesse contaminação confirmada”, lembrando que “não existem torres de refrigeração” no hospital.
O diretor clínico adjunto disse ainda que são realizadas “mensalmente” análises às águas sanitárias quentes.
Todas as medidas do hospital estão a ser acompanhadas pela Direção-Geral da Saúde em colaboração com o Instituto Ricardo Jorge.
Quatro infetados
O primeiro caso do surto de legionela foi detetado durante a madrugada de sábado. Trata-se de uma mulher que esteve há duas semanas internada no hospital, tendo recebido alta posteriormente. Paulo Gomes estima, por isso, que o surto tenha começado por essa altura. O segundo caso foi diagnosticado durante a tarde de ontem numa paciente que deu entrada naquela unidade de saúde com pneumonia.
Até ao momento foram diagnosticados quatro casos, todos mulheres com idades entre os 47 e os 66 anos. Destas, duas são pacientes que tinham estado internadas e as outras duas são funcionárias daquele hospital.
Todas apresentam um quadro clínico “estável e com prognóstico positivo”, garante o diretor clínico adjunto, Paulo Gomes.
No entanto, há uma infetada que está internada nos cuidados intensivos, “mas apenas por precaução e para fins de monitorização, de vido a patologias anteriores”, ressalva Paulo Gomes.
Mas, por admitir que “possa haver novos casos”, o diretor clínico do hospital lançou um alerta a todas as pessoas que tenham sido internadas nas últimas semanas e que, agora, apresentem sintomas de febre, tosse, dores de cabeça ou diarreia, para que se dirijam ao hospital de forma a serem analisadas.
Este é o primeiro surto de legionela no Hospital CUF Descobertas, que pertence ao Grupo José de Mello Saúde. Mas há dois meses, em novembro, houve um surto da doença dos legionários no Hospital S. Francisco Xavier, que provocou 56 infetados e seis vítimas mortais. Nesse caso, o surto teve origem numa das torres de arrefecimento daquele hospital.
Em janeiro, o governo anunciou que vai apresentar um projeto-lei que determina auditorias obrigatórias de três em três anos a empresas de equipamentos, sistemas e redes com maior risco de desenvolvimento de legionela. Segundo o diploma conjunto dos ministérios da Saúde e Ambiente, as empresas que não cumprirem arriscam multas que vão até 45 mil euros.
A legionela é uma bactéria responsável pela doença dos legionários, uma forma de pneumonia grave que se inicia habitualmente com tosse seca, febre, arrepios, dor de cabeça, dores musculares e dificuldade respiratória.
A infeção não se transmite entre humanos sendo contraída por via respiratória, através da inalação de gotículas de água ou por aspiração de água contaminada. A incubação da doença tem um período de cinco a seis dias depois da infeção, podendo ir até dez dias.
O surto mais grave de legionela em Portugal aconteceu em 2014 em Vila Franca de Xira, sendo provocado pelas torres de refrigeração da Adubos de Portugal. Esse surto provocou 375 infetados e 12 vítimas mortais.