O Supremo Tribunal da Índia decidiu no dia 11 que não existe qualquer razão para reinvestigar o assassinato de Mahatma Gandhi nem para nomear uma comissão de inquérito, pois não há nenhuma prova que sugira que tenha havido outro assassino além de Nathuram Godse, o extremista hindu que a 30 de janeiro de 1948 lhe desferiu três tiros e o matou em Nova Deli. Para o tribunal, Godse foi o assassino material e Narayan Apte o seu cúmplice. Ambos foram condenados à morte pelo crime e enforcados a 15 de novembro de 1949.
Para a organização hindu de extrema–direita Abhinav Bharat, a investigação à morte de Gandhi foi “o maior encobrimento da História” e houve um outro assassino que teria disparado um quarto tiro, tiro este que acabou por ser o fatal – um homem “misterioso” de que não se falou na investigação e que não teria passado à História. A teoria assenta na confissão de Pankaj Phadnis, um devoto seguidor de Veer Savarkar, crítico do Congresso Nacional Indiano e da partição da Índia, cunhador do termo hindutva (orgulho hindu) e que chegou a ser julgado na altura como inspirador do crime, mas foi absolvido.
Para Amrendra Sharan, o advogado nomeado pelo Supremo para analisar os documentos apresentados para o caso voltar a ser aberto, não há qualquer indício, nas 4 mil páginas arquivadas do processo e da comissão de inquérito que em 1969 reanalisou o caso, que justifique novo julgamento.
Nem a autópsia revela nem as seis testemunhas falam de um quarto tiro ou de um outro atirador que não Godse. O envolvimento de uma qualquer agência de informação estrangeira (nomeadamente britânica) na manipulação de provas e influenciando o tribunal não está assente em nenhum facto concreto. A existência de um grupo dos serviços secretos chamado Força 136 não aparece em qualquer documento da altura ou posterior.
“As balas que penetraram no corpo de Mahatma Gandhi, a pistola a partir da qual foram disparadas, o atacante que disparou as balas, a conspiração que levou ao assassinato e a ideologia que levou ao assassinato foram todos perfeitamente identificados. Não há nenhum material substantivo descoberto que possa levantar alguma dúvida sobre algo enumerado antes e que requeira uma reinvestigação no processo do homicídio de Mahatma Gandhi ou para constituir uma nova comissão de averiguação com respeito ao mesmo”, escreveu o advogado no relatório que ajudou o Supremo Tribunal na sua decisão.
Mesmo assim, 70 anos depois do assassínio, há quem prefira acreditar que Godse não era mais do que um peão nas mãos dos britânicos, a potência colonizadora que fora forçada a abdicar da joia da coroa do seu império por força da luta pacífica de Gandhi. Tal era a dimensão atingida pelo homem em vida que no sítio onde o seu corpo sucumbiu aos ferimentos se abriu uma cratera, pela ânsia das pessoas de levarem para casa um pouco da terra por onde se infiltrara o sangue do mártir da Índia.