FC Porto. Paciência resgatado para mudar a história recente

O FC Porto deu ordem a Gonçalo Paciência para regressar à casa-mãe, depois de uma primeira metade de temporada muito positiva no Vitória de Setúbal. Os dragões têm tradição neste campo, mas raras foram as vezes em que os regressos significaram sucesso efetivo

A grande exibição na final da Taça da Liga, frente ao Sporting (coroada com golo logo a abrir o encontro), foi a evidência que faltava para o FC Porto tomar a decisão: 24 horas depois, Gonçalo Paciência foi chamado pela SAD portista para reintegrar de imediato os trabalhos do plantel orientado por Sérgio Conceição. O avançado de 23 anos tem contrato com os dragões até junho de 2019 e cumpriu, na primeira metade da temporada, o quarto empréstimo consecutivo.

Pelo Vitória de Setúbal, Gonçalo Paciência inverteu o rumo negativo em que parecia estar a afundar-se nos últimos anos. Depois de, com 20 anos, se ter estreado na primeira equipa do FC Porto (quatro jogos e um golo em 2014/15), o filho de outro antigo goleador portista (Domingos Paciência) fez apenas quatro golos em 30 jogos na Académica, em 2015/16. Na época passada, ultrapassado na hierarquia por um tal de André Silva, foi emprestado ao Olympiacos, então treinado por Paulo Bento. A aventura na Grécia, porém, foi marcada por problemas de saúde, nomeadamente a nível cardíaco, e em janeiro, depois de apenas um jogo realizado na Grécia, Gonçalo regressou a Portugal para representar o Rio Ave. Em Vila do Conde, não conseguiu ganhar a titularidade a Guedes e terminou a época com apenas um golo em 15 jogos.

Este ano, todavia, tudo mudou. José Couceiro apostou no jovem avançado luso desde a primeira hora e Gonçalo Paciência respondeu com boas exibições e, mais importante, golos: 11 em 25 jogos, mais sete assistências – foi ele o melhor marcador desta edição da Taça da Liga (cinco golos). Pelo meio, chegou à Seleção A, ele que tinha cumprido todo o percurso internacional nas camadas jovens – Jogos Olímpicos incluidos. Agora, quase três anos depois do último jogo oficial pelos dragões (2 de abril de 2015), o menino regressa a casa com estatuto reforçado.

Fintar o destino “Faço questão de seguir todos os jogadores emprestados, semanalmente sou informado sobre eles, seja em Portugal ou fora. É importante olhar para dentro de casa. Não foi pela prestação na final da Taça da Liga que chamei o Gonçalo, ele já estava a ser seguido. Conheço-o desde a formação, conheço os pais… Não é uma situação em cima do joelho, ou por ter feito um golo ao Sporting. Tem a ver com a evolução do jogador, a qualidade que tem demonstrado nestes meses. Agora é uma questão de o encaixar na equipa, pois tem características diferentes dos avançados que temos à disposição”, asseverou ontem Sérgio Conceição.

E é aqui que reside o grande desafio de Gonçalo, que terá de enfrentar a concorrência do consagrado Aboubakar, de Soares – caso o brasileiro permaneça no clube (ver peça à direita) – e também do reforço Waris. Historicamente, o FC Porto tem tradição de resgatar emprestados neste período da época: desde a época 2000/01, fê-lo por seis ocasiões, tantas quanto o Sporting. Os efeitos diretos dessas opções é que não têm sido assim tão visíveis quanto isso.
Tudo começou com Folha, que em 2000/01 voltou em janeiro após um empréstimo aos belgas do Standard Liège. O atual treinador da equipa B dos dragões terá sido o regresso mais bem sucedido: fez 20 jogos (e um golo), participando ativamente na conquista da Taça de Portugal. Em 2007/08, os portistas resgataram dois jovens: Hélder Barbosa à Académica e Rabiola ao Vitória de Guimarães. A influência de ambos foi residual: o extremo fez seis jogos; o avançado, apenas um, para a Taça.

Em 2013/14, depois de uma primeira metade positiva no Vitória de Guimarães, Abdoulaye também recebeu ordens para voltar, após a saída de Otamendi. Cumpriu nove jogos, funcionando acima de tudo como apoio para a dupla Mangala-Maicon. E em 2016/17, foi Kelvin a assumir esse estatuto, embora de forma meteórica: findo o empréstimo ao São Paulo, o homem que deu o título ao FC Porto em 2012/13 regressou ao Olival, foi lançado por Nuno Espírito Santo numa vitória caseira sobre o Moreirense… e voltou a ser cedido, desta feita ao Vasco da Gama.

Se alargarmos a análise aos outros “grandes”, o cenário muda ligeiramente. No Sporting, Pereirinha, em 2006/07, e Rúben Semedo, em 2015/16, são exemplos de sucesso; Podence e Palhinha, na época passada, e Renato Neto em 2011/12 tiveram relativo aproveitamento; Francisco Geraldes só ficou a perder com a saída repentina do Moreirense, onde era peça-chave. No Benfica, os três casos tiveram uma influência praticamente nula na equipa. Apenas André Almeida viria a cimentar um lugar no plantel, mas em termos futuros, depois dos quatro jogos realizados em 2011/12; Rui Baião, em 2000/01, e Roderick, em 2012/13, passaram quase despercebidos e despediram-se aí do clube.