Make America Horny Again. Em português será qualquer coisa como ‘tornar a América novamente excitada’ e as parecenças com o lema da candidatura republicana à Casa Branca – Make America Great Again – são demasiado óbvias. Trata-se, na verdade, do nome escolhido para um espetáculo de striptease protagonizado pela atriz pornográfica Stormy Daniels no Trophy Club de Greenville, no estado da Carolina do Sul, no dia do primeiro aniversário da tomada de posse de Donald Trump como 45.º Presidente dos Estados Unidos.
A escolha da data e do tema não foi uma feliz coincidência. Para além da reprodução de uma fotografia da atriz com Trump no panfleto distribuído nos dias anteriores pela gerência do bar, as letras gordas nele impressas permitiam tirar essa conclusão facilmente: «Ele via-a ao vivo. Você também a pode ver!»
A inspiração do panfleto residiu numa suposta relação amorosa entre o magnata e a atriz de filmes para adultos, durante vários meses de 2006, confessada pela própria numa entrevista de 2011 à revista In Touch, publicada na íntegra no final da semana passada, e confirmada dias antes pelo Wall Street Journal.
E inspirou também o show, que foi um sucesso. As quase 300 pessoas que assistiram à estreia da digressão – que já tem espetáculos agendados para Shreveport (Luisiana), Nashville (Tennessee) e Oklahoma City (Oklahoma) – foram presenteadas com duas atuações de striptease, acompanhadas pela reprodução de imagens do Presidente nas televisões do Trophy Club e ao som do Animal da banda britânica Def Leppard.
A atriz que deu vida ao espetáculo chama-se, na realidade, Stephanie Gregory Clifford. Nascida a 17 de março de 1979, em Batoun Rouge (Luisiana), Stormy Daniels – um nome artístico que pode ser traduzido para Daniels ‘tempestuosa’ ou ‘tormentosa’ – tornou-se stripper aos 17 e entrou no mundo da pornografia alguns anos depois. Hoje tem 38 primaveras, quase 150 filmes para adultos no currículo – entre participações e realizações – e conta ainda com pequenas participações em filmes mais ‘hollywoodescos’, como ‘Virgem aos 40 anos’ (2005) ou ‘Um Azar do Caraças’ (2007), bem como no videoclipe da música Wake Up Call, dos Maroon 5.
Em 2009 chegou a ser desafiada a candidatar-se ao cargo de senadora pelo estado do Luisiana, mas rejeitou por entender que, para além dos custos avultados de tal empreitada, não iria ser levada a sério pela comunicação social norte-americana.
Entrevista explosiva
Nas semanas que antecederam as eleições presidenciais disputadas entre Trump e Hillary Clinton, o alegado caso amoroso foi alvo de investigações por parte de alguns meios de comunicação dos EUA – como a Fox News, a CNN ou a Slate -, mas acabou por ficar rapidamente arredado do mapa mediático norte-americano por falta de provas e testemunhos.
O tema regressou em força há cerca de duas semanas quando o WSJ revelou que o advogado e amigo de longa data de Trump, Michael Cohen, tinha comprado o silêncio de Stormy Daniels, pagando-lhe 130 mil dólares (quase 106 mil euros). O pagamento terá sido efetuado no dia 17 de outubro de 2016, dez dias depois de o Washington Post ter publicado um vídeo de 2005 do programa Access Hollywood, no qual se ouve o agora chefe de Estado confessar a Billy Bush que gostava de agarrar as mulheres «pelos genitais» e obrigá-las a ter sexo com ele. Jacob Weisberg, diretor executivo do Slate Group, confirmou que foi por essa altura que a sua investigação ao caso perdeu força, uma vez que Daniels deixou efetivamente de responder aos seus contactos.
Num email enviado para a redação do Washington Post, Cohen afirmou que aqueles rumores «já circulam desde 2011» e catalogou-os como «notícias antigas que não eram verdadeiras na altura não são verdadeiras agora». Na mesma linha, a Casa Branca divulgou um comunicado no qual refere que «os relatos são antigos e reciclados, já foram publicados e firmemente negados antes da eleição».
Os rumores de 2011, referidos por Cohen, reportam-se a uma publicação da In Touch nesse mesmo ano, que dava conta do caso amoroso do magnata com Stormy Daniels. Na última sexta, no entanto, a revista decidiu publicar uma longa entrevista que fez à atriz pornográfica e cujo conteúdo, nunca reproduzido na íntegra, terá dado azo ao artigo em causa.
Nessa entrevista, Daniels revela que conheceu Trump em julho de 2006 – poucos meses depois do casamento entre o Presidente e a atual mulher e primeira-dama, Melania – num torneio de golfe, e que iniciaram aí o seu relacionamento amoroso. A atriz refere que o primeiro encontro teve lugar no quarto de hotel onde o então empresário e estrela de TV estava hospedado, e conta que se voltaram a encontrar várias vezes durante esse ano, para além de trocarem frequentemente mensagens por telefone.
O relato da atriz porno à In Touch dá conta de uma série de episódios que envolveram o Presidente norte-americano, alguns deles bastante bizarros. Stormy relata, por exemplo, que Trump passava horas do seu dia a ver televisão, que lhe dizia para «não se preocupar com a Melania», que a queria levar ao seu programa televisivo, o The Apprentice, e que lhe fazia vários pedidos insólitos. Como quando a instou a bater-lhe como uma edição da revista Forbes que tinha a sua filha Ivanka na mancheye ou quando a obrigou assistir ao programa Shark Week – ‘semana dos tubarões’, em português – durante três horas.
A fixação de Trump por tubarões foi mesmo um dos temas destaque na entrevista. «Ele [Trump] é obcecado por tubarões, tem pavor de tubarões. Às vezes dizia-me: ‘Eu doo imenso [dinheiro] a várias organizações de caridade mas nunca doaria a organizações que ajudam tubarões. Espero que todos os tubarões morram», contou Daniels.
A entrevista foi realizada pelo jornalista Jordi Lippe-McGraw que, em declarações ao Post, revelou que Stormy decidiu falar publicamente sobre o caso amoroso com Trump por se ter sentido ofendida com os comentários negativos sobre as pessoas ligadas à indústria pornográfica, proferidas por aquele, anos depois de terminada a relação. As razões que levaram à não publicação da conversa, em 2011, não foram, no entanto, explicadas.
Questionado sobre o porquê dessa decisão, o atual diretor da In Touch esclareceu que não fazia parte dos quadros da revista em 2011 e que, por isso, não esteve envolvido na discussão interna que resultou na não utilização da entrevista. Ainda assim refere que a notícia do WSJ deu condições à divulgação da entrevista sete anos depois. «Esta história tem agora uma importância singular, que não teria tido caso tivesse sido publicada anteriormente», defendeu James Heidenry.
Os fãs da digressão Make America Horny Again que o digam.