A cara da SIC Mulher e que há 13 anos trabalha na estação de Carnaxide desdobra-se em papéis que vão além do pequeno ecrã. Há quatro anos lançou o Change It, um projeto pelo qual se «apaixonou» e que «caminha este ano para ser uma organização de impacto social assente em sustainable development goals» [objetivos de desenvolvimento sustentável].
O bilinguismo é propositado: Ana Rita Clara – que já tinha lançado o seu blogue Ana272 em Miami – quer mesmo internacionalizar o que começou por ser «um sonho» só dela. A conversa decorreu à beira da rua de Pedrouços, em Lisboa, num final de tarde chuvoso de uma das primeiras sextas-feiras do ano.
Por que sentiu necessidade de criar um projeto como o Change It?
Começou com uma vontade minha muito genuína de querer tocar as pessoas, ajudá-las a serem melhores. Sabemos que, por um lado, a mudança é uma constante da vida, mas sempre fui muito ativista e muito ligada à ideia de querermos ser mais do que aquilo que estamos a ser.
Mas era ativista em que sentido? Em conversas com amigos ou algo mais?
Tinha esse feitio, na escola candidatava-me sempre às listas para as associações de estudantes. Já nessa altura escrevia sobre muitas causas. Depois, e decorrente da minha exposição, sempre fui embaixadora de várias causas e acabou por ser natural. O Change It apresenta-se como um movimento de changers e de pessoas que são inspiradas para mudar as suas vidas.
Quando lhe surgiu essa ideia?
Foi em 2014, consigo lembrar-me precisamente do momento. As palavras change it vieram-me à cabeça, numa fase muito particular na minha vida. Já tinha lançado o meu blogue (Ana272) em Miami, mas queria criar algo mais… Sou uma mulher de campo, de tocar as pessoas, sou de ir. O meu verbo é ir. Estar em contacto, é ouvir histórias, contá-las e senti-las. E as pessoas fascinam-me. E portanto sentia que além do meu trabalho como apresentadora, que tem estado a correr muito bem, precisava de criar uma coisa pessoal mas que se tornasse coletiva. E por isso isto surgiu numa conversa de amigos em que procurava um novo caminho e em que pensei: ‘Então se é para ter essa inspiração e se conheço tantos changers e tantas pessoas ao longo destes anos, porque é que não coloco as pessoas juntas?’.
Quem são essas pessoas?
Mais de 250 pessoas de todas as áreas. Pensei logo em convidar pessoas que me inspiram a mim. Logo à partida convidei uma das maiores artistas plásticas da atualidade, a Tamara Alves, que na altura ainda estava a começar a ser conhecida. O José Luís Peixoto, o José Eduardo Agualusa, o Kalaf Epalanga, a Laurinda Alves, o Ricardo Costa, o Pedro Rocha Vieira, a Magda Lourenço que é uma grande empresária e criou o conceito da Nails4Us…[enumera mais uma dezena de nomes]. O que tenho procurado sempre é convidar algumas almas inspiradoras que tenham feito a sua travessia, com os seus obstáculos, com os lados b’s e c’s da vida, e que as pessoas que procuram o Change It percebam que todas elas podem fazer essa construção também. E a partir daí conseguirem não só a inspiração mas uma rede de oportunidades, de networking, e obviamente também dar mais visibilidade aos seus próprios projetos.
E que objetivos já conseguiram, que histórias concretas pode contar?
Neste momento temos uma comunidade com quase 5 mil pessoas inscritas no próprio site (changeit.world) já fizemos 18 encontros pelo país, não só em vários espaços de Lisboa como também no Porto e no Funchal. Temos parcerias com a Câmara Municipal de Lisboa, onde abrimos a sexta semana de empreendedorismo; com a Amnistia Internacional, com a APAV, com a Federação de Mulheres Empresárias e Empreendedoras da CPLP, com a Startup Lisboa, etc. No ano passado estivemos também pela primeira vez dentro do Nos Alive só com artistas plásticos e só a falar de qual o lugar da arte. Fomos ao FESTin, no São Jorge e ao GreenFest com o Pedro Norton de Matos. Já fizemos um encontro internacional todo em inglês, só com inovadores e empreendedores do mundo, com a Junior Achievement Portugal. E também estivemos no Web Summit com a Bold International onde pude entrevistar a Meredith Artley, que lidera a equipa digital da CNN.
E o impacto junto das pessoas, as histórias reais?
Tivemos o exemplo de um jovem que ficou inspirado a partir do nosso projeto, estava com receio de viajar e de mudar a vida dele. E foi. Trabalhou numa agência de publicidade lá fora e veio criar cá a sua plataforma digital. E depois foi ter connosco e contou-nos. Temos também outras histórias de vida de mulheres ou homens que querem oportunidades de negócio, vêm falar das suas empresas e a partir daí conseguem ter as ferramentas necessárias para ir avante. Não é obviamente um consultório sentimental, nem nunca procurou sê-lo. É uma comunidade de pessoas que acreditam que efetivamente com esta junção de palestras, de conversas, de reflexões, conseguimos mudar a vida das pessoas e conseguimos também mudar o mundo. O ano de 2018 vai ser marcante nesse sentido, em que as histórias das pessoas vêm cá para fora, saltam de uma outra maneira. Também estamos a pensar na internacionalização, que poderá ocorrer ainda este ano, estamos a falar com o Brasil. E outra coisa importante: este ano vamos fazer parte do melhor programa de aceleração de impacto nacional, que é o Impact Generator.
E ao procurar este caminho nunca pensou pôr a televisão de parte?
Nunca. Nem nunca hei de deixar, a televisão faz parte do meu plano de carreira. Mas não acho que as pessoas sejam apenas uma coisa, não sou a favor das caixinhas e da fragmentação. Sou completamente o oposto.
Era uma das questões que tinha para lhe colocar. Basta entrar no seu Instagram para ver a própria definição que escolheu [Tv Host. Actress.Activist. Digital Influencer.Mother of Caetano]…
E ainda faltam lá mais coisas!
Neste momento, a televisão ainda é o seu trabalho principal ou é só o gancho para tudo o resto? Vejo isto em muitas pessoas da sua área: cada vez mais as redes sociais e todos os trabalhos satélite têm um impacto muito grande, relativo até à forma como ganham dinheiro.
Essa pergunta é-me difícil responder no sentido em que não acho que tenha que fazer uma opção entre televisão e a criação de uma organização de trabalho social, ou entre ser atriz e apresentadora, ou entre escrever crónicas ou apresentar um programa. As pessoas passam muitas vezes anos da sua vida sem se conhecerem ou explorarem aquilo que são. Continuo a gostar muito do que faço, gosto muito de televisão, tenho um plano de carreira que passa por agarrar nas oportunidades que apareçam e fazer coisas novas, porque naturalmente compreendem que estou há sete anos a apresentar um programa. Mas fechámos 2017 com a melhor audiência de sempre, portanto como é obvio sinto-me muito feliz e honrada de ser a cara de um canal e de contribuir para termos números muito satisfatórios a nível de audiência, apesar de sermos um canal que está em dificuldade.
Sinto-me muito feliz e honrada de ser a cara de um canal e de contribuir para termos números muito satisfatórios a nível de audiência
Por que acha que em contracorrente conseguiram melhorar os números no ano passado?
Bem, gosto de pensar que tem a ver com o trabalho que fazemos diariamente (risos). Omeletes sem ovos, com esta entrega e dedicação, com bons conteúdos e quero acreditar que o meu trabalho ajuda nesse sentido. O que acho é que cada vez mais com a evolução do mercado, como está a acontecer, a televisão temática e de nicho, com qualidade, continua a ter um posicionamento completamente diferente e dá resposta àquilo que as pessoas informadas procuram. É um campo muito interessante e que deve ser a aposta do futuro. Não é à toa que outros canais temáticos de outras áreas, sejam canais de séries ou outros, têm somado um crescendo muito forte. Acredito que a televisão terá sempre o seu lugar porque acaba por preencher um lugar na vida das pessoas que é gratificante, que as faz sentir bem.
Acha que os blogues fazem concorrência à televisão?
Podem e devem ser compatíveis. O que sinto enquanto Ana Rita Clara no blog e apresentadora é que acabo efetivamente por tocar vários segmentos e vários públicos e que a televisão, a minha plataforma digital, o Change It, são apenas mais canais de comunicação que tenho para chegar a mais pessoas. Com diferentes objetivos, com diferentes conteúdos, mas sempre na mesma coerência. O mais difícil aqui será esse desafio de manter a coerência e a qualidade ao longo dos anos. Não acho que efetivamente se possa colocar nesses termos de serem concorrentes diretos, ocupam outro tipo de segmento, terá também a ver com o gosto das pessoas. Na televisão penso que, tendencialmente, a qualidade irá sobrepor-se a qualquer outra situação.
O Faz Sentido está no ar há quatro anos. Escolhe os convidados?
Muitos deles. Sempre fui muito ouvida. Não tenho ninguém no auricular a dizer-me o que perguntar, sempre tive comigo um canal que me deu muita liberdade, acho que desde cedo perceberam o meu perfil e a minha forma de ser. Há 13 anos que tenho carta branca na SIC e isso é uma felicidade. Independentemente de estarmos num canal num momento difícil, tem sido muito gratificante. Fui evoluindo como apresentadora e como mulher à vista do público. As pessoas até grávida me viram, houve essa partilha. É um entrar na casa sem permissão mas com permissão na mesma.
Isso nunca a assustou? Crescer à frente da televisão?
Não. Sempre tive muita noção do que é privado e público.
Qual foi o momento mais difícil no programa?
Julgo que muitas mulheres podem dizer isto: desde que o meu filho nasceu que o meu coração vive cá fora com ele e emociono-me muito mais rapidamente. Existem temas a partir do momento em que se é mãe em que o coração estremece. Fica-se naturalmente ligado a um pai ou uma mãe, porque se consegue calcular, ou nem se consegue calcular, a dimensão da dor. Não é que não fosse sensível antes, mas é diferente. Isto para falar de um momento recente do programa em que o Carlos Martins, um jogador profissional foi ao nosso programa a convite do IPO para falar de uma agenda solidária e aproveitou para agradecer, pela primeira vez, ao diretor do IPO de Lisboa. E contou com a voz embargada o que foi para eles virem de Espanha sem resposta nenhuma sobre o filho, sem poder fazer um transplante lá, e cá são recebidos pela nossa equipa do IPO e têm uma resposta e aquela coisa do ‘não se preocupe, estamos aqui’. Foi tão especial e eu fico tão emocionada quando os convidados esperam para ali poder fazer aquela partilha que me toca muito. Mas já tive momentos hilariantes, também. Já quase caí no estúdio, já tive um outro momento em que o foco de luz estourou, caiu e eu continuei como se nada fosse, já tive um ataque de riso, já tive um ataque de tosse… (risos)
Vamos voltar atrás uns anos e falar sobre o início da sua carreira.
A primeira vez que fiz televisão ainda estava a estudar Sociologia no Minho, tinha 19 anos. Depois voltei para o norte, queria terminar o curso. E começo na NTV no Porto, fui convidada diretamente para apresentar o XPTO onde fico três anos e apresento vários formatos completamente laboratoriais e diferenciadores. E depois recebo o convite do Nuno Artur Silva das Produções Fictícias para aí com 24 anos para vir para Lisboa.
E o sotaque, perdeu?
Não, existe e eu gosto!
Por que optou por Sociologia se gostava tanto de comunicação?
Aos quatro anos já imitava apresentadores de televisão. Imitava a Filipa Vacondeus a fazer as comidinhas. Sempre me vi a ter um trabalho como comunicadora. Mas apaixonei-me por essa forma de encararmos os fenómenos sociais. E no Minho tive um professor que me marcou profundamente que se virou para o auditório todo num exame de consulta, que nunca tinha tido, e disse: ‘Não venham com nada decorado, vocês estão aqui para aprender a pensar’. Aquilo ficou-me de tal forma que me apaixonei pelo curso e fiquei.
Quando veio para Lisboa como foi a adaptação?
Para mim não há nem nunca houve bairrismos, nem norte nem sul. Há pessoas. Mas não foi uma adaptação fácil. Não era de cá, não tinha rede cá. Vinha de uma estrutura e de uma outra forma de estar. E quer se queira quer não Lisboa é fantástica e as pessoas também, mas no norte as pessoas são muito expansivas e recebem logo em casa, por isso demorou algum tempo. Cá sentia que as pessoas viviam fechadas em ilhas. Vinha de uma cidade mais pequena…
Espinho?
Não, nasci em Espinho mas sou de São João da Madeira. Depois vivi em Braga e no Porto. Mas comecei a viajar muito cedo com a moda, porque aos 14 anos fui convidada para trabalhar nesse meio e em fotografia e por isso habituei-me a conviver com muita gente e estar fora de casa desde muito cedo. Mas não foram tempos fáceis. Entrar numa nova estrutura, a miúda do norte que está a chegar. E de repente comecei a ter muito trabalho e não parei. Sempre fui muito focada e sempre quis criar a minha marca e o meu lugar.
Sempre foi assim disciplinada?
Sei bem quais são os objetivos que quero cumprir e sinto-me focada, sim. Talvez do ponto de vista profissional queira tanto criar a diferença que isso também me facilita o ser focada. Mas por outro lado não, sou muito leve e despretensiosa. Não sei é se depois quem me vê trabalhar assim tanto, com tantos projetos ao mesmo tempo, possa achar que não.
E pouco depois de chegar é logo convidada para apresentar o Inimigo Público.
Sim, foi fantástico, na altura até me cruzei com os Gato Fedorento. Ria-me muito com uma coisa que gravávamos com o João Quadros, era hilariante. E depois gosto muito do Rui Unas, com quem fiz televisão pela primeira vez, e da Joana Cruz. A primeira experiência foi no Tivoli, fomos logo contratados para a SIC e de repente sou apresentada como um dos novos rostos da estação e entro para a equipa do Êxtase, um programa que amava e que passados poucos anos estou a apresentar.
Foi uma boa escola?
Uma muito boa escola! Tive a felicidade já na NTV também de participar em projetos laboratoriais que me deram a experiência não só de apresentar como, por exemplo, de ser a produtora. Para mim é muito importante perceber o esqueleto de tudo. Estar à frente das câmaras mas perceber o trabalho que é feito antes. Na NTV chegava ao cúmulo – uma coisa normal na altura – de às 8 da manhã estar a telefonar aos convidados que ia receber passado umas horas.
Já teve algum confronto ou teve que fazer uma grande cedência no trabalho?
Em que sentido?
Por exemplo, se já houve algum programa que quisesse muito fazer e que não aconteceu?
O que posso dizer em relação a esse tipo de situações é que infelizmente um canal temático tem uma limitação financeira que outros canais não têm. E como sou muito criativa e sugestiva, naturalmente que já existiram ideias que não foram possíveis de colocar em prática porque não existiam verbas, e é isso que às vezes se torna castrador. Mas nunca tive nenhum confronto até porque sou uma pessoa bastante diplomata e acho que não há necessidade de chegar ao conflito porque isso depois também não resolve absolutamente coisa nenhuma. Tem que se compreender também a esfera onde se está. Pessoalmente e como apresentadora, claro que quero sempre que apareçam propostas de formatos porque eu própria também quero explorar outros públicos e outras coisas. Fazem sempre falta ciclos de mudança.
Infelizmente um canal temático tem uma limitação financeira que outros canais não têm
Vamos falar então da maior mudança de todas, o seu filho Caetano. Quais sente que são os grandes desafios da parentalidade – e obviamente que ele ainda é muito pequenino, mas quais são os que sente agora e os que já antecipa?
O maior desafio que acontece imediatamente a partir do momento que soube que estava grávida foi o de priorizar o tempo. Fazia 1001 coisas ao mesmo tempo e imediatamente pensei como ia gerir isso.
Mas continua a fazê-las…
(risos) Continuo, mas se calhar a ser mais prática nas decisões e a dar tempo ao que efetivamente merece. Por outro lado, a mim ainda me deu mais energia para crescer e para construir.
Uma vez disse que nasceu no dia em que deu à luz.
Sim, há um antes e um depois, sem dúvida. Veio completar-me de uma forma única, não há comparação com nada. Os maiores desafios têm a ver com o querermos sempre ser a melhor mãe do mundo, a pessoa quer sempre cumprir o melhor. E o depois o que é o melhor, não é? Acho que tem a ver efetivamente com aquilo que nós somos, com a nossa realidade, com aquilo que nos foi transmitido, com a ligação com o nosso bebé.
Aconteceu-lhe algum daqueles clichés que toda a gente lhe disse que ia acontecer, achava que não e de repente dá por si a fazê-lo?
Sim, com certeza. Sou muito descontraída, relativizo, viajei com o bebé muito pequenino e acho que não sou muito problemática. Mas uma das coisas que aconteceu foi tornar-me muito leoa e mamã galinha.
O que quer dizer com isso?
Acho que também tem a ver com o facto de ser mamã de primeira viagem: por exemplo, quando a avó está a passar o seu tempinho com o neto, nos primeiros meses telefonava de cinco em cinco minutos para saber se estava tudo bem (risos). Uma preocupação que com o tempo foi evoluindo e agora o bebé já tem 1 ano e 3 meses.
Voltou ao ginásio duas semanas depois do parto. Pouco depois voltou ao trabalho e isto foi notícia. Incomodou-a este escrutínio ou já estava à espera?
Já estava à espera. Valorizo a opinião dos outros até ao ponto em que se justifica, a partir do momento em que é uma frustração dos outros ou que sinto que é uma reação porque sim acabo por não dar valor. Acredito no que estou a fazer e acho que, acima de tudo, também tinha muitas mulheres que sempre me acompanharam e que sempre me viram como um exemplo nesse sentido. Mas já sabia que iria acontecer. Tudo o que tem a ver com maternidade é um tema muito delicado e que incomoda e toca muito as pessoas. Desde o ir para ginásio, depois era os exercícios que fazia, depois era porque estava muito magra. E ainda criticaram outra coisa: estava em casa e fiz um brinde com o meu marido, sai logo um rol de notícias porque estava a beber álcool. Depois a questão do amamentar ou não, a do ir trabalhar… 15 dias depois já estava no programa da Júlia a falar sobre amamentação, sim. E sempre soube gerir muito bem o meu tempo e o que é o mais importante para o meu bebé e para mim. E uma mãe feliz tem um bebé feliz.
Tudo o que tem a ver com maternidade é um tema muito delicado e que incomoda e toca muito as pessoas
Foi construindo uma carapaça?
Todos somos humanos e ninguém gosta, obviamente, de ler coisas desagradáveis. Quem não sente não é filho de boa gente. Mas ao longo dos anos vamos criando uma bolha que protege daqueles comentários que efetivamente interessam para os que são destrutivos. Tive um outro momento que me tocou particularmente, e não estava nada à espera da reação, que foi uma produção que fiz para o blog na qual fui fotografada produzida. Queria dar aquele olhar de ‘mamãs, afinal tudo é possível’. Tinha voltado ao trabalho, estava com o carrinho do bebé, queria mostrar o lado otimista da vida. Sim, não se dorme. Sim, custa gerir tudo. Sim, as olheiras aparecem. E as pessoas entenderam o contrário, que eu só tenho o lado perfeito, que só estava assim porque tive ajuda para que as coisas aconteçam. Isso é verdade, tenho ajuda, e só com essa ajuda é possível organizar-me e disciplinar-me como faço. Mas também trabalho para ela. E também percebo que Ana Rita Clara é mãe mas é mulher e tem carreira e coisas para construir. A partir do momento em que somos mães não deixamos de ser mulheres, e mulheres empreendedoras, que querem construir mundo.
Sente que esse raciocínio social ainda não entra bem?
Muitas vezes não entra.