Numa manhã, entre sair de casa, na zona do Lumiar, até chegar ao metro do Campo Grande, Francisca viu três ratos. Dois deles, minúsculos, dentro de um garrafão de plástico vazio, cenário que a fez pegar no telemóvel, fotografar e partilhar nas redes sociais.
Até esse dia, Francisca apenas sabia que a presença de ratos estava a alastrar àquela zona da cidade depois de as filhas garantirem que na escola era normal vê–los a passear, principalmente quem ficasse para as aulas de Educação Física que aconteciam ao fim do dia. A situação já era de tal forma grave que a escola se viu obrigada a avisar os pais da situação, dando a garantia de que a desratização, que era feita apenas durante as férias escolares, passou a ter de ser permanente e feita de forma compatível com a presença de alunos na escola.
Também em ambiente escolar, mas na outra ponta da cidade, duas escolas do Restelo e Caselas viram-se obrigadas a fechar portas durante vários dias devido a uma praga de ratos. Desde quinta–feira, quando foi dado o alerta, esteve na escola uma empresa contratada para a desratização, e no exterior, o diretor do Agrupamento de Escolas do Restelo explicou que seria a junta de freguesia, em articulação com a câmara, a proceder à limpeza na área circundante.
No dia de fecho da escola, o vereador da Educação da Câmara de Lisboa referiu que a autarquia “já teve registos noutros espaços, não só em escolas, mas em zonas de espaço público”. Ricardo Robles fala em “fenómeno cíclico” e garante que, neste caso, a preocupação principal é assegurar “a segurança e condições de salubridade nas escolas”.
Mesmo assim, no mesmo dia, os deputados municipais do CDS-PP entregaram um requerimento a pedir esclarecimentos à câmara sobre a origem desta propagação, questionando também se o município tem feito operações de limpeza e desinfestação. Sem resposta da autarquia, Diogo Moura, líder da bancada municipal do CDS, fala ao i em “problema estrutural da cidade” que acontece devido “à falta de limpeza de coletores”. De referir que a câmara também não respondeu às questões enviadas pelo i sobre as causas da infestação no Restelo e quais as medidas previstas para as pragas noutras zonas da cidade.
Zona histórica Se o Restelo e o Lumiar não são os locais onde imaginamos ver uma praga de ratos, em zonas mais antigas, como o Bairro Alto, este tipo de situações sempre foi considerada mais comum.
No entanto, pelas ruas calcorreadas pelo i, o cenário parece seguro. Mafalda, dona do Croissant Gigante do Bairro, garante que em dois anos de portas abertas na Travessa dos Fiéis de Deus nunca viu nenhum rato nas redondezas. “Nós, aqui no bairro, comemo-los”, brinca Paula, que para já está pela zona só para tomar um café depois do almoço, mas se prepara para abrir uma loja na vizinha Rua da Rosa.
Mafalda garante que de três em três meses vem uma empresa de desratização ao café, já para evitar infestações, e Ricardo, ao balcão da Leitaria Eneri, na Rua Luz Soriano, refere que já viu “senhores da câmara” levantar as tampas de esgoto para deitar um líquido. “Mas isso é só quando o rei faz anos”, salienta.
Ratos naquela zona só viu quando o prédio em frente esteve em obras. “Aí até passei a ter de pôr uma proteção na porta para não entrarem”. Isto porque o dono do bar em frente fazia questão de lhe mostrar os “vídeos assustadores” que filmava de madrugada, quando os animais se passeavam mais livremente.
“Pareciam coelhos” Além dos ratos, há ainda relatos de pragas de baratas e percevejos. Cherly, que vive há nove anos no Bairro Alto, já se viu obrigado a mudar de casa quando percebeu que aquela comichão que sentia sempre que entrava em casa vinha da praga de percevejos do prédio. “Pediram-me 700 euros pela desinfestação e eu preferi abandonar colchão, tapetes e alguma roupa e sair de lá.”
Mais abaixo, na Rua Serpa Pinto, o dono de um restaurante, que prefere não ser identificado, conta ao i que no verão eram tantas as baratas que, quando começaram a pôr o produto para as matar no cimo da rua, parecia “um mar delas pela estrada abaixo”.
Agora, a praga sazonal são os ratos, “que mais parecem coelhos”, explica, afastando os dois dedos indicadores em sinal de grandeza.
O proprietário culpa a câmara mas também os comerciantes da zona, que continuam a pôr lixo fora dos contentores. “Os meus empregados veem ratos às dezenas sempre que vão ao ecoponto e estão sacos deixados no chão”, garante. Ao perceber que esta não era mais uma daquelas épocas em que se vê um rato a passar de vez em quando – “o que acontece frequentemente”, esclarece – decidiu contactar a câmara e, no último fim de semana, já viu por lá funcionários a colocar um produto nas tampas de esgoto. “De facto, desde aí que não vejo nenhum”, esclarece. Não via. Assim que chegamos a casa lemos o seguinte sms: “Ainda há bocado andava outra ratazana a sair da sarjeta.”