Os nomes encriptados “Loira”, Ricky Martin” e “Meias Brancas” surgiram há algumas sessões de julgamento do caso Fizz. Estavam todos num caderno apreendido ao antigo procurador Orlando Figueira e o próprio disse que não se recordava. Mas hoje o arguido Paulo Blanco decidiu abrir o jogo e contar aos juízes quem é quem.
“A verdade material deve estar acima das corporações e para que não subsistam dúvidas era bom clarificar as anotações e fazer todos os esclarecimentos”, disse Paulo Blanco durante a sua defesa, adiantando que quem conhece os procuradores do DCIAP sabe que alguns têm alcunhas, algo que aliás considera comum na sociedade portuguesa: “É referido nas anotações a “Loira”, que é a senhora doutora Ana Bruno [advogada]; o “Meia Branca” é o doutor Rosário Teixeira; e o “Ricky Martin” é o doutor Ricardo Matos [procurador do DCIAP]”, revelou.
Em causa está um encontro a 24 de Novembro de 2011 que Orlando Figueira teve no Central Parque, em Linda a Velha, e no qual recebeu informações sobre o processo 77/10, relativo a uma mega fraude ao tesouro angolano, tendo-as escrito no seu caderno.
Perante as novas informações o juiz voltou a ler esta tarde as notas manuscritas de Orlando Figueira, já com os nomes verdadeiros: “Álvaro Sobrinho está envolvido com a Loira, que o doutor Paulo Blanco diz que é Ana Bruno, e Ricky Martin, que o doutor diz que é o doutor Ricardo Matos, na lavagem de um processo do Meia Branca, que o doutor diz que é Rosário Teixeira. Há lá grilos”.
O juiz não poupou nas críticas à postura do antigo procurador arguido neste processo: “Isto é importante e o doutor Orlando Figueira ter deixado isto no ar a mim muito me espanta, não vejo em que e que isso pode beliscar a imagem de quem quer que seja. E fez disso um segredo dos Deuses…”
Para que se pudesse ler o resto das notas, a defesa de Paulo Branco foi interrompida e foi chamado Orlando Figueira que confirmou as alcunhas e a respetiva correspondência. O antigo magistrado revelou que o encontro no Central Parque foi com o juiz Carlos Alexandre, descrito como “Alex” e que este lhe disse que um familiar (nas notas referido como o “Charro”) lhe passou dois bilhetes de avião para Luanda que pretendiam insinuar que Paulo Blanco e o procurador “estavam feitos”.
Os bilhetes, conta Orlando Figueira, eram os da viagem à semana da legalidade, deslocação que diz ter feito a convite de João Maria de Sousa, antigo PGR de Angola.
O juiz pediu ainda que Orlando lesse outras notas perante o coletivo, como por exemplo: “Ricky está envolvido com malas de dinheiro… E até o Horta Osório”. E questionou o que significavam. O antigo procurador disse que isso significava que o colega estava a investigar esse caso, apenas isso.
Revelou ainda que “grilos” significam escutas telefónicas.
Perante a disponibilidade do antigo procurador, o advogado Rui Patrício, que representa Manuel Vicente, pediu ainda para que explicasse o que eram as iniciais “AV”, que apareciam numa referência a um encontro que teve. Orlando Figueira disse que se tratava de António Vilela, jornalista da Sábado.
Paulo Blanco reforçou no final das explicações de Figueira acreditar que o procurador não tinha falado antes por ser um bom magistrado e para defender os colegas.
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