O homem que durante anos defendeu o estado angolano e que está a ser julgado no caso Fizz, explicou hoje em tribunal que o antigo vice-presidente de Angola Manuel Vicente (também arguido) não se desfez do seu património em Portugal para, como diz a acusação, se desligar aparentemente da teia de corrupção. Paulo Blanco disse ainda que a venda dos ativos em Portugal aconteceu porque Vicente estava pouco tranquilo com todos os casos que estavam a correr na Justiça e com as fugas de informação e decidiu deixar tudo.
Grande parte da sessão da manhã de hoje foi dedicada a analisar o arquivamento da investigação à compra de um apartamento no condomínio Estoril Sol Residence, uma decisão que de acordo com a acusação foi conseguida através do pagamento de contrapartidas ao procurador português Orlando Figueira.
O MP defende que não só o caso foi arquivado, como ainda o foi de forma mais célere do que os que corriam na justiça contra outras personalidades angolanas e de outras nacionalidades pela compra de apartamentos naquele condomínio. Refere ainda a acusação que com o arquivamento e com a alegada contratação de Orlando Figueira (parte das contrapartidas), Vicente vendeu o seu apartamento ao seu homem de confiança para que não estivesse ligado ao mesmo.
A explicação de Blanco para que Vicente tenha vendido tudo
Paulo Blanco avançou com uma outra tese: “Houve quem dissesse que era incompatível ter participação no banco BIC e estar em órgãos de supervisão do BCP, o que não era, mas o senhor engenheiro Manuel Vicente seguiu os conselhos de um conjunto de pessoas que sugeriam a venda. E aí foi constituída a sociedade Edimo [de enteado de Vicente], que veio a adquirir a participação social”.
Refere ainda que após isso, e dada a intranquilidade de Manuel Vicente, o “apartamento Estoril Sol e a participação do BIC (já da Edimo) foram vendidas a Armindo Pires”.
Paulo Blanco voltou ainda a referir que a Portmill, de direito angolano, que foi investigada no âmbito da compra do apartamento do Estoril Sol por Manuel Vicente não é a mesma que mais tarde viria a ser investigada pela compra de 24% das ações do BES Angola, lembrando que nesta última, também a cargo do procurador Orlando Figueira, Vicente nunca foi investigado, porque se tratava de uma Portmill diferente.
As suas declarações vão ao encontro do que o antigo procurador já tinha dito, mas contraria a acusação que assegura que Orlando Figueira arquivou os dois inquéritos que visavam Manuel Vicente e depois foi contrato pelo ex-vice-presidente de Angola para ir trabalhar para a empresa Primagest.
Confusão com as datas
Paulo Blanco foi ainda confrontado hoje com o facto de dizer que apenas conheceu Armindo Pires a 29 de Novembro de 2011 (e por isso só a partir daí advogado de Manuel Vicente), mas no dia 30 já ter a indicação de que bastava juntar à investigação os comprovativos de rendimentos. Tendo até dado a garantia de que tais documentos seriam expurgados para que ninguém pudesse ter acesso aos mesmos, o que acabou por acontecer por determinação de Orlando Figueira e a concordância de Cândida Almeida.
A situação causou grande estupefação ao coletivo e Blanco justificou que já tinha estudado a situação antes, porque a PGR angolana já tinha falado com ele antes de ter sido contactado por Armindo Pires e ele já tinha estudado a situação: “Se o assunto era o mesmo a resposta era a mesma”.