As histórias da frugalidade extrema de Ingvar Kamprad sucedem-se nos seus obituários à mesma velocidade a que foram relembrados os seus sucessos empresariais. O homem que fundou o IKEA, hoje uma das dez marcas mais conhecidas do mundo, morreu há uma semana, aos 91 anos, na sua casa em Småland, na Suécia. Deixou, segundo a Forbes, uma fortuna avaliada em 57 mil milhões de euros e um império espalhado pelo mundo, que veio revolucionar o mercado do mobiliário.
Se fosse norte-americano, Ingvar seria apelidado de self made man. Nasceu em 1926 em Älmhult, na Suécia, com o bicho do empreendedorismo acoplado – aos cinco anos já vendia caixas de fósforos aos vizinhos.
Não teve um começo de vida fácil – o pai era um agricultor alemão e a família não tinha muitas posses – e talvez por isso nunca perdeu alguns hábitos de poupança que muitos consideravam extremos. Usava roupa em segunda mão, viajava sempre em económica, conduziu o mesmo carro durante trinta anos – um Volvo 240 de 1993 – e chegou a dizer que apenas cortava o cabelo em países em desenvolvimento por ser mais barato.
Fora as excentricidades, era um empresário notável. Fundou o IKEA aos 17 anos, em 1943, depois de acabar o ensino secundário – usou para o nome as suas iniciais e as primeiras letras de Elmtaryd e Agunnaryd, a quinta e a paróquia onde cresceu. Nessa altura, a loja vendia apenas apenas canetas, carteiras, molduras, corredores de mesa, relógios, joias e meias de nylon. Cinco anos depois passa a vender móveis produzidos por fabricantes locais e em 1951 publica o primeiro catálogo – que viria a tornar-se numa das imagens de marca da empresa. Paralelamente aos negócios, percorreu alguns caminhos obscuros. Na década de 40 chegou a estar envolvido com os movimentos nazis na Suécia – o que descreveu depois como um "erro da juventude", pelo qual pediu desculpa. Em 1963 casou-se com Margaretha Stennert. Tiveram três filhos, Peter, Jonas e Mathias. Dez anos depois, a família emigrava da Suécia para a Dinamarca e, mais tarde, para a Suíça.
Ingvar abriu a primeira grande loja do IKEA na cidade onde nasceu em 1958: à época, era a maior exposição de móveis na Escandinávia. Ingvar teve a ideia vender os móveis por módulos depois de ver um empregado a retirar os pés a uma mesa para que coubesse no carro de um cliente. Estava aberta a caixa de Pandora e decretadas as linhas orientadoras da empresa: redução de custos, preços baixos e ausência de desperdício.
Deste então o gigante sueco galopou os mercados a nível mundial e continua em expansão: hoje o IKEA tem 412 pontos de venda em todo o mundo. Desde 2008 que é o maior retalhista de mobília global.
Ingvar esteve em Portugal para abertura da loja de Alfragide, em 2006. Foi de autocarro para a abertura – considerava que não valia a pena a pena gastar dinheiro em táxis, além de assim poder testar os acessos. E, contou o Expresso, ficou alojado numa modesta pensão da Praça da Alegria. Hoje existem cinco lojas no país: Loures, Alfragide, Loulé, Braga e Matosinhos.
Com Sónia Peres Pinto