Catarina Vaz Pinto, a vereadora da Cultura da CML, deu a conhecer, em entrevista concedida a um jornal em dezembro de 2017, a intenção de concessionar a gestão do Teatro (municipal) Maria Matos a privados,
Ora, basta atentar neste mero enunciado para se perceber os contornos da questão. A esquerda criou o mito conveniente que só a direita-Belzebu vende, só a direita-maquiavélica privatiza. Se já na educação e na saúde a questão é sempre controversa, no setor da cultura atinge o pico da histeria.
De acordo com a verdade oficial da esquerda, a esquerda não privatiza nada nunca, menos ainda na cultura. Ora, quando a vereadora do executivo socialista e bloquista anuncia a entrega do Teatro Maria Matos à gestão de privados, o mínimo que se pode dizer é que, se fosse um vereador da cultura PSD-CDS, os artistas ter-se-iam acorrentado a dar a volta ao quarteirão e a notícia abriria os telejornais das oito da noite.
Como o PCP e o BE suportam o Governo PS na Assembleia da República, e o BE faz parte do executivo da Câmara em Lisboa, a situação é terrivelmente embaraçosa para as esquerdas.
O PCP, pese embora suporte o Governo central, ainda faz alguma oposição em Lisboa. E tratou logo de agendar na Assembleia Municipal um debate para o dia 16 de janeiro, para discutir o processo de concessão do teatro.
Escusado será dizer que, nesse dia, as galerias da Assembleia Municipal (antigo Cinema Roma) estavam cheias de trabalhadores do teatro que se queriam manifestar contra Catarina Vaz Pinto.
Eis senão quando o deputado bloquista faz a intervenção da tarde, desferindo um ataque brutal à vereadora da cultura. Começa por saudar os peticionários, dizendo-lhes que são a garantia da democracia. Acusa a vereadora de dar entrevistas aos jornais a valorizar o teatro, mas de o oferecer depois aos privados. Afirma que o ‘plano de atividades’ não foi a reunião da CML, que não está orçamentado, que não consta das Grandes Opções do Plano, que não consta do plano de atividades da EGEAC. Afirma que a vereadora não tem legitimidade política para adotar esta medida.
Fernando Medina ficou estupefacto e respondeu tratar-se de uma intervenção enfática, demagógica, para arrancar palmas da plateia, e um exercício de falsidade objetiva.
A estratégia do Bloco de Esquerda ficou demonstrada nessa tarde: têm um vereador no executivo camarário mas consideram-se livres para ser a maior força de oposição da Assembleia Municipal. Mostraram sobretudo não ter um pingo de noção do que é lealdade no seio de uma coligação para governar Lisboa.
A cara de Medina demonstrava bem o seu descontentamento. Não será tão cedo que o presidente voltará à assembleia para ser embaraçado com tamanha desfaçatez.
sofiarocha@sol.pt