Depois de uma manhã cheia de tensão – com Paulo Blanco e Orlando Figueira a apresentarem versões diferentes –, a parte da tarde de ontem do julgamento do caso Fizz centrou-se no arquivamento do processo Banif, em 2010, e na forma como os documentos que lá constavam acabaram destruídos.
O coletivo questionou por diversas vezes o antigo advogado do Estado angolano, Paulo Blanco, sobre o conteúdo de emails enviados quer para o ex-PGR daquele país, João Maria de Sousa, quer para outras individualidades de Luanda com documentos aparentemente sigilosos. Blanco respondeu sempre que teve acesso a tais documentos quando já não estavam em segredo de Justiça. Admitiu, porém, que num dos casos enviou uma escuta para o então PGR Angola que fazia parte de uma investigação, mas porque a mesma lhe chegou às mãos de forma anónima e pensou tratar-se de um teste de lealdade.
Sobre o caso, Banif Blanco disse ter apenas pedido ao Ministério Público em 2011 a extração da documentação relativa ao Estado angolano (tendo sugerido ao banqueiro Carlos Silva que fizesse o mesmo), numa altura em que já tinham passado vários meses desde o arquivamento dos mesmos.
O que é certo é que os documentos não foram extraídos e entregues a Blanco, foram mesmo destruídos. Algo que a procuradora de julgamento, Leonor Machado, considerou ontem estranho.
Perante algumas considerações da procuradora, Paulo Blanco, que esteve grande parte do tempo a apresentar a sua defesa junto ao projetor e não na caixa dos arguidos, reagiu dizendo que Leonor Machado estava “a fazer confusão”.
Blanco voltou ontem a dizer que Vicente nada tem a ver com este alegado esquema, reiterando que quem mandava no BCP e no Banco Privado Atlântico era Carlos Silva.
Blanco coloca Orlando no olho do Furacão
Ainda na parte da manhã, Paulo Blanco disse ao coletivo que André Navarro, administrador do Banco Privado Atlântico, lhe tinha assegurado que o antigo procurador Orlando Figueira só iria trabalhar para Angola quando um processo que corria contra o banqueiro Carlos Silva fosse arquivado.
Essa informação, segundo Blanco – que durante anos representou o Estado angolano em diversos processos – foi-lhe passada em 2013, altura em que Figueira já não estava no DCIAP, mas a trabalhar para a Primagest, sociedade que segundo o MP está ligada à Sonangol, mas que os arguidos associam a Carlos Silva.
Aliás, Blanco diz mesmo que Figueira estava não só a trabalhar no âmbito do seu contrato com a Primagest, como ainda a colaborar com o Banco Privado Atlântico, em Portugal (algo que Figueira sempre negou).
Perante as declarações de Blanco, Orlando Figueira, sentado no banco dos arguidos, não parava de abanar a cabeça. A indignação do antigo magistrado foi tanta que levou o coletivo a pedir que desse a sua posição, como já tinha acontecido na sessão de ontem, em que Blanco negou ter entregue documentação sigilosa a Figueira na Expo, Lisboa.
O ex-procurador aproveitou para referir que “grande parte das coisas que Paulo Blanco disse não correspondem à verdade”. “O doutor Paulo Blanco pode dizer o que quiser. Eu não fazia ideia de que Carlos Silva iria ser interrogado [em inquérito que corria em 2013, após saída de Orlando] e pergunte-se aos procuradores. Isto de atirar tiros para o ar… às vezes apanha-se um pardal”, continuou o antigo procurador, irritado.
O antigo magistrado assegurou ainda que Blanco nunca lhe tinha dito que a sua ida para Angola – pela qual esperava desde que pediu licença sem vencimento ao DCIAP – estava dependente disso, até porque diz que nessa altura já nada poderia fazer para arquivar: “O doutor Paulo Blanco nunca me disse isto”. O juiz presidente Alfredo Costa mostrou-se surpreendido com esta nova versão. Após a explicação de Orlando Figueira, Paulo Blanco frisou que o que estava a dizer perante o coletivo foi o que André Navarro lhe comunicou: “Disse-me que Orlando Figueira estava a colaborar com o BPA Portugal”.
Numa nova intervenção, Figueira admitiu ter tido uma intervenção no pedido de um parecer sobre um caso que opunha a Edimo ao Banco Privado Atlântico e voltou a dizer que tal parecer foi pedido com base em documentação que lhe foi dada por Paulo Blanco na Gare do Oriente – encontro que Blanco nega.
Ainda de manhã, o coletivo pediu esclarecimentos a Blanco sobre alguns emails que foram apreendidos que indiciavam violação do segredo de justiça.