As autoridades brasileiras entraram em força esta quarta-feira na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, onde realizaram 23 detenções um dia depois de duas crianças terem sido baleadas mortalmente noutros locais da cidade. As operações começaram na manhã local e ainda decorriam ao início da noite em Portugal, momento em que se encontravam várias vias de acesso encerradas, incluindo uma autoestrada, assim como 12 escolas, quatro creches e cinco espaços infantis. As autoridades brasileiras tentam responder a um pico de violência que se iniciou no ano passado e prossegue neste período de Carnaval.
As grandes movimentações policiais não começaram esta quarta, mas, na terça-feira, a cidade exigiu resposta à morte de uma criança e um adolescente de 13 anos. A criança, Emily Sofia, tinha três anos e morreu no carro onde se encontrava com os pais no momento em que um grupo de homens armados abriu fogo sobre o veículo, ainda por razões desconhecidas.
A mãe sobreviveu com ferimentos ligeiros, causados por balas que a atingiram de raspão. O pai foi atingido no tórax, mas o seu estado encontrava-se estável. Segundo o “Folha de S. Paulo”, Emily morreu antes de chegar ao hospital. Já o adolescente, de 13 anos, foi apanhado no fogo cruzado dos confrontos entre a polícia e grupos armados no Complexo da Maré.
A Cidade de Deus é a favela do Rio de Janeiro onde se registaram mais tiroteios desde o início do ano, razão pela qual o grosso das operações policiais se encontrava esta quarta nessa zona. A aplicação Fogo Cruzado, que faz o registo dos tiroteios com base em denúncias de moradores, contou já 46 trocas de tiros nesta favela em 2018, uma indicação da mais recente e vasta vaga de violência que atravessa a cidade. No total da cidade, a mesma aplicação regista 688 tiroteios apenas desde o dia 1 de janeiro.
Só no ano passado, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, morreram 6731 pessoas de forma violenta no estado do Rio de Janeiro, o que representa uma média de 18 vítimas por dia. É o valor mais alto de mortas violentas no Rio desde 2009. Também em 2017 morreram 134 polícias militares. Os principais confrontos ocorrem nas grandes favelas: Cidade de Deus e Rocinha. A crise económica que o Brasil atravessa contribui para os picos de violência. Várias delegações policiais têm salários atrasados e falta de dinheiro para a manutenção de veículos e equipamento. A crise atingiu também as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora.