Um documento publicado pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, destinado aos casais católicos que tenham recasado refere que a igreja não deve “deixar de propor a vida em continência na nova situação”. Esta afirmação levou a que muitas pessoas reagissem – umas concordam com a indicação do cardeal-patriarca, outras nem por isso.
O diretor do serviço de Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, por exemplo, considerou “redutora” a forma como as palavras de D. Manuel Clemente foram interpretadas: “Não é D. Manuel quem aconselha, é o Papa João Paulo II. Esta recomendação já vem da exortação apostólica Familiaris Consortio, de 1981″, disse ao site Observador.
O padre Mário Pais Oliveira disse ao Notícias ao Minuto que as declarações do cardeal-patriarca “não merecem comentários”. “A igreja não deixa nada. Não tem nada que deixar. As pessoas são livres e autónomas e decidem a sua vida. Nós é que fomos educados e formatados para pensar que precisamos de autorização de alguém”, afirmou.
Por outro lado, Carlos Paes, pároco de São João de Deus, em Lisboa, compreende o que está por detrás destas declarações polémicas: A continência faz parte da conjugalidade. E acontece também quando, por uma questão de doença ou deslocação ao estrangeiro por motivos laborais, um dos cônjuges se ausenta ou deixa de estar disponível para a sexualidade. Não se pode considerar logo que a continência é anti-natural porque ela acontece e as pessoas têm de estar preparadas para estas circunstâncias”, disse ao jornal Público.
Já o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse ao mesmo jornal preferir “que sejam os dois cônjuges, um diante do outro e os dois diante de Deus, a decidirem sobre a sua vida intima”, frisando que não cabe a um “guia espiritual,e creio que muito menos a um bispo” tomar qualquer posição em relação a este assunto.
"A Igreja tem de evoluir"
Já Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, mostrou-se “perplexo” com as declarações de D. Manuel Clemente. “Portugal é um país soberano e laico, não há o direito de o Vaticano vir impor comportamentos a outro Estado (…) Em Portugal há uma separação entre Estado e Igreja. Por vezes, o nosso Estado gosta de se tornar nosso ‘paizinho’ e dizer-nos o que devemos fazer, agora, é a nossa Igreja que se quer tornar nossa ‘mãezinha’”, afirmou. A Igreja tem de “evoluir e perceber que não manda no corpo das pessoas”, acrescentou Joaquim Jorge.