OGoverno de Madrid só recorrerá ao Tribunal Constitucional, no caso de uma presidência ‘simbólica’ de Carles Puigdemont votada no Parlamento da Catalunha ou se esta nomeação, feita pela Assembleia de Eleitos Independentistas, implicar algum gasto do erário público. Segundo fontes governamentais citadas pelo El País, se não há «reconhecimento administrativo nem económico, a cargo do erário público, podem nomeá-lo e reconhecer-lhe os títulos e as honras que lhes apeteçam».
Fora isso, embora Mariano Rajoy continue a insistir com a líder catalã do Ciudadanos, Inés Arrimadas, que se apresente como candidata à investidura, dada a divisão entre os principais partidos independentistas, o Governo do PP não criará obstáculos a uma indigitação de Elsa Artadi, mulher de confiança de Puigdemont e dirigente da coligação JxC (Juntos pela Catalunha), como presidente do Governo autonómico da Catalunha. São nesse sentido várias declarações de responsáveis governamentais, como a ministra da Defesa espanhola, Carmen Cospedal, que afirmou não entender «o que é um presidente simbólico», porque ou «se é presidente legal ou não se é», mas que se este termo ajudar «a um acordo para desbloquear a situação, enganando-se a si mesmos [os independentistas] com uma saída que possa ser honrosa, não será necessariamente uma má solução», defendeu a ministra.
A nova presidente
Perante o impasse e o conflito com o Tribunal Constitucional e o Governo espanhol, o segundo partido independentista mais votado a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) pretende uma solução que não coloque mais dirigentes independentistas a serem processados pela Justiça espanhola, e que tenha como objetivo imediato a recuperação das instituições democráticas autonómicas. Uma solução que passa por ser apresentado outro candidato à indigitação indicado, segundo o acordo entre o JxC e a ERC, pela coligação dirigida por Puigdemont.
Esta posição tem a característica irónica de expressar um posicionamento inverso, dos dois maiores partidos independentistas, de antes da imposição do artigo 155 na região. Na altura , Puigdemont quis convocar novas eleições para o Parlamento da Catalunha, a realizar-se a 20 de dezembro, numa solução mediada pelo o Partido Nacionalista Basco (PNV) e o Governo autonómico basco, e foi Oriol Junqueras e a ERC que insistiram na necessidade de serem respeitados os resultados do referendo de 1 de outubro e de manter a rota de confrontação com o Governo espanhol.
Elsa Artadi não é o único nome possível para substituir Puigdemont na presidência do Governo da Catalunha, há setores independentistas que insistem em outras possibilidades, como Jordi Sànchez, antigo líder da Assembleia Nacional Catalã, atualmente preso. Sendo que essa solução teria o risco, que caso Sànchez não seja libertado, tornar a presidência inviável.
A possibilidade da eleição de Elsa Artadi, levou o líder do PP local, Xavier Garcia Albiol (partido que não conseguiu formar grupo parlamentar nas últimas eleições na Catalunha), a dizer que a candidata não tem as qualidades suficientes para dirigir o Governo. «Não demonstrou absolutamente nada, nem a nível político nem a nível institucional», disse o líder do PP, concluindo que «a instituição não poderia ter caído tão baixo nem ela [Artadi] aspirar a tanto»
As declarações do líder local do partido do Governo de Madrid chocam com o currículo da eventual candidata, bastante superior ao do seu detrator.
Elsa Artadi, 41 anos, é deputada dos Juntos pela Catalunha, doutorada em economia pela Universidade de Harvard e trabalhou no Banco Mundial. Foi professora da Università Bocconi de Milán (Itália) durante cinco anos, é docente na Barcelona Graduate School of Economics e numa universidade chinesa. Na sua trajetória profissional destaca-se ter trabalhado para o Banco Mundial em Casablanca (Marrocos) e em Washington.
Em 2011, começou a trabalhar na Generalitat como assessora do Ministério da Economia, num mandato que se distinguiu pela aplicação de numerosos cortes nas despesas sociais e implementação de políticas de perfil neoliberal tão violentas, que em junho de 2011, o então presidente do Governo autonómico, Artur Mas, só conseguiu chegar ao Parlamento da Catalunha para discutir medidas orçamentais, de helicóptero, dada a Cidadela estar cercada por manifestantes. Posteriormente, foi nomeada diretora geral de impostos. Em 2015, foi designada secretária das Finanças, tendo trocado esse cargo, para ocupar a função de diretora geral de Coordenação Interdepartamental do Governo catalão.
Do ponto de vista político só se filiou no partido de Puigdemont, o Partido Democrático e Europeu da Catalunha (PDECat), em 2016. Foi diretora da campanha eleitoral da coligação JxC nas eleições de 21 de dezembro passado.
Juristas descartam eleições
Os juristas do Parlamento, órgão de aconselhamento da câmara catalã, veio dar uma má notícia ao PP que ameaçava com convocação imediata de novas eleições catalãs. Numa decisão unânime, os juristas lembraram que o prazo de investidura, que é de dois meses, só começa a contar depois da primeira votação do Parlamento em relação a um candidato. E dado que o Tribunal Constitucional (TC) proibiu a sessão para investir Carles Puigdemont, e a mesa do Parlamento recorreu e pediu esclarecimentos ao TC sobre os direitos dos deputados eleitos, nomeadamente Puigdemont e os outros deputados presos: não só esse prazo não está a contar, como até a marcação de um novo plenário ficou em suspenso até essa resposta.
A segunda parte do documento dos juristas do Parlamento não reuniu a unanimidade e não vai assinada pelo jurista principal desta órgão, Antoni Bayona, que considera que não cabia aos juristas discutir soluções políticas. Nesta parte polémica do documento, diz-se que depois de chegados os esclarecimentos do TC, cabe ao presidente da mesa do Parlamento, Roger Torrent (ERC), caso os bloqueios persistam, procurar novo candidato ou convocar novas eleições legislativas na região.