Os rankings chumbam no exame

Com os rankings, a competição deixa de ser entre alunos para passar a ser entre escolas e professores

Só quando entrei para a faculdade é que me apercebi que o colégio e liceu que tinha frequentado ocupavam sempre os primeiros lugares na lista dos rankings nacionais. Não sei o que teria sentido se tivesse sabido disso antes. Provavelmente um grande orgulho, como se tivéssemos ganho a taça dos mais inteligentes. E imagino que aqueles que ocupassem o último lugar tivessem o sentimento oposto. Hoje em dia, com uma simples dedada no telemóvel, os mais jovens têm acesso à lista dourada ou negra, dependendo do lugar que ocupam.

Não sou nada fã de testes e exames, sejam da escola, psicológicos ou outros. Percebo que seja difícil fazer uma avaliação qualitativa individual porque exige tempo, imparcialidade e dedicação, mas um exame quantitativo é muito redutor das capacidades de cada um, ignora e provoca fatores como a ansiedade e o stress, além de que coloca um rótulo que muitas vezes não corresponde à realidade. Se as avaliações só por si podem ser negativas, quando se lhes dá tanto protagonismo que começa a passar a ideia que certas escolas são as melhores ou as piores, consoante o resultado desses testes, então o caldo está entornado. A competição deixa de ser entre alunos, para passar também a ser entre professores e escolas. Corre-se assim o risco de deixar para trás o mais importante, como o ritmo de cada aluno, a originalidade e capacidade de pensar sobre as coisas, para se focar em prepará-lo para responder dentro do esperado aos testes que irá fazer no final do ano, como se tivesse uma pala de cada lado dos olhos. Os cavalos de tração passam a carregar a reputação de toda a instituição.

Nos dias que antecedem os exames nacionais não há escola, para que os alunos possam ir para casa agarrar-se aos livros e apontamentos dia e noite para terem na ponta da língua a matéria que irão debitar em algumas folhas de papel ao longo de umas horas. Mas tudo o que está na ponta acaba por cair, e assim acontece poucos dias depois com a matéria que foi colada com cuspo, para se arranjar espaço na cabeça para o exame seguinte. Ou seja, o que fica afinal? Que significado têm estes resultados?

Além do efeito nocivo que a má interpretação dos rankings pode ter – como a ideia de que a qualidade da escola se baseia numa avaliação -, de fomentar a competição e tornar difícil o ensino de um pensamento mais livre, criativo e adequado a cada realidade e aluno, este método desconsidera também uma série de variáveis estranhas. Como o facto de os super-colégios não só escolherem a dedo os seus alunos como convidarem a sair os mais inconvenientes, ou as diferenças económicas e sociais das populações entre escolas, que fazem com que uma escola com alunos com pais iletrados e sem posses para os colocarem em explicações possa ter um ensino melhor ou igual a uma escola de média superior mas com outras características.

Por todas estas razões e mais algumas que não tenho espaço para enunciar, tenho para para mim que os rankings, com todo o protagonismo que lhes é dado, chumbam no exame.

Psicóloga clínica

filipachasqueira@gmail.com