A mais importante organização humanitária do Reino Unido deslizava ontem para zonas mais profundas do escândalo sexual que eclodiu há uma semana, quando se revelou que alguns dos seus altos responsáveis organizaram orgias com prostitutas do Haiti pouco depois do terramoto devastador de 2010. As orgias decorreram nos edifícios da agência na capital, foram pagas com fundos humanitários e possivelmente envolveram menores.
Penny Lawrence, a vice-diretora da Oxfam, demitiu-se esta segunda-feira no final de um encontro entre responsáveis da organização e o governo britânico, que financia uns 8% do orçamento anual de 340 milhões de euros da agência humanitária e que ameaça agora fechar a torneira caso a organização não faça mudanças – a Oxfam preocupa-se já com o impacto nas doações individuais, a fonte da maior parte do financiamento. Lawrence é a vítima mais natural do escândalo, uma vez que era a diretora dos programas internacionais nos anos de 2010 e 2011, os anos dos casos revelados na semana passada.
Os escândalos, no entanto, multiplicam-se, e esta segunda o “Observer” revelou que o mesmo responsável da Oxfam no Haiti que organizou as orgias em Porto Príncipe já havia sido sinalizado internamente como suspeito de abusos sexuais, discriminação de género e pagamentos a prostitutas no Chade, onde coordenava as operações da agência humanitária antes de ser apontado o dirigente no Haiti. Esse responsável, Roland van Hauwermeiren, eventualmente denunciado em 2011 numa investigação interna, abandonou a Oxfam gradualmente.
Van Hauwermeiren foi um dos sete funcionários da Oxfam afastados pelos escândalos sexuais que a agência humanitária silenciou. A prostituição é ilegal no Haiti e a Oxfam afirma que não denunciou o caso à polícia por entender que isso colocaria em risco as mulheres e que, no rescaldo do terramoto, as autoridades nada fariam para dar seguimento ao caso. O embaixador do Haiti em Londres, no entanto, afirmou esta segunda que o seu governo não acredita nas justificações e que se prepara para avançar com processos internacionais contra os funcionários implicados.
“Era uma orgia de Calígula completa”, contava na semana passada uma testemunha da Oxfam, em declarações ao semanário “Times”, que revelou o caso. Segundo afirma, alguns trabalhadores da organização referiam-se à sede em Porto Príncipe como “a casa de putas”. “Foi incrível. Foi uma loucura. Numa festa havia pelo menos cinco raparigas e duas vestiam os polos brancos da Oxfam. Os homens falavam das celebrações como ‘barbecues de carne jovem.’”