O ministro holandês dos Negócios Estrangeiros (MNE) demitiu-se depois de admitir ter inventado um encontro com o presidente russo. “Não tenho hoje outra opção a não ser a de submeter a minha demissão a sua majestade, o Rei”, afirmou ontem, emocionado, Halbe Zijlstra no parlamento da Holanda. O parlamento holandês reuniu de emergência algumas horas antes de uma viagem do governante, no cargo há apenas quatro meses, a Moscovo, para uma reunião com o homólogo russo.
Na véspera, Zijstra admitira ter inventado a sua participação numa reunião com Vladmir Putin, em 2006, quando trabalhava para a empresa petrolífera Shell. Nessa reunião, o presidente russo teria confidenciado que considerava a Bieolorússia, a Ucrânia e os países bálticos – Estónia, Letónia e Lituânia – como parte da “Grande Rússia”.
No entanto, na segunda-feira, em declarações ao jornal “De Volkskrant”, o MNE holandês confessou não ter participado no encontro e que soube das declarações de Putin por outras fontes. Zijstra disse que escutou as observações de um colega, que estivera presente, e que para não o comprometer, assumiu o crédito de ter ouvido os comentários sobre a “Grande Rússia”. “O modo como pretendi proteger a minha fonte e enfatizar minha mensagem sobre a Rússia não foi sensato, isso está perfeitamente claro”, admitiu o político do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD).
No entanto, o ex-dirigente da petrolífera Shell que participou no encontro em casa de Putin afirmou nunca ter dito o que o ministro repetiu sobre a ideia expansionista do presidente russo. Numa carta publicada pela imprensa holandesa, a fonte assegurou que Zijlstra fez uma má interpretação da conversa, porque Putin “falava em termos históricos” e não “num tom de ameaça” à Europa.
De imediato, a oposição pediu a demissão do chefe da diplomacia holandesa dos Negócios Estrangeiros e a embaixada russa na Holanda disse que tudo não passa de “notícias falsas”. Em comunicado, a representação diplomática argumentou que “a Rússia é acusada de estar obcecada com a noção de Grande Rússia” e que isso “só pode vir daqueles que a vêm como um inimigo e querem ampliar o raio de ação da NATO com a desculpa que existe uma ameaça”.
A demissão mergulha o governo holandês numa crise, uma vez que o primeiro-ministro defendeu o seu chefe da diplomacia apesar de saber, desde janeiro, que este tinha mentido. Segundo Mark Rutte, Zijlstra teria cometido “um grande erro”, mas não comprometeu a própria credibilidade. O também presidente do VVD acrescentou que o incidente não prejudicará as relações da Holanda com a Rússia, pois “os russos sabem perfeitamente que o conteúdo [dos supostos comentários de Putin] é verdadeiro”.
Zijlstra deveria encontrar-se hoje com o homólogo russo, Serguei Lavrov, para discutir, entre outras coisas, a tragédia do voo MH17. Em julho de 2014, um avião da Malaysian Airlines que voava de Amesterdão para Kuala-Lumpur foi abatido no espaço aéreo ucraniano por um míssil Buk, de fabrico russo, disparado em território controlado por separatistas pró-russos. Morreram os 298 ocupantes, a maioria holandeses, e Moscovo vetou a criação de um tribunal internacional especial, o que levou Haia a acusar o Kremlin de faltar à verdade sobre o caso.
Um responsável da diplomacia holandesa afirmou que o encontro, “por razões óbvias”, terá de ficar adiado para uma outra data. Um nome para o lugar de Halbe Zijlstra está por revelar.