A lista de crimes pelos quais Pedro Dias é acusado vai longa: três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.
Perante este cenário, o Ministério Público pediu ontem a pena máxima de 25 anos pelos crimes cometidos em Aguiar da Beira, com a procuradora do Ministério Público a considerar que todos os crimes foram provados. Além disso, o Ministério Público fala em “versão fantasiosa” com que o suspeito apresentou os factos de que é acusado.
Em tribunal
Pedro Dias confessou ontem ter disparado sobre dois agentes da GNR, um que morreu e outro que ficou ferido. No entanto, em tribunal, rejeitou qualquer tipo de responsabilidade quanto à morte de dois civis, acusando um dos militares da GNR, António Ferreira, de atingir a tiro Luís e Liliane Pinto, que viajavam na Estrada Nacional 229.
Para explicar o que se passou na noite dos crimes, o arguido começou por contar que parou a carrinha com medo de um despiste, por estar cansado e com sono. Pouco depois, foi acordado por uma patrulha da GNR composta pelos dois militares que acabaram por ser atingidos a tiro, que terão parado por acharem estranho ver alguém num sítio ermo a uma hora tardia.
Pedro Dias garante que, depois de algumas perguntas e várias suspeitas sobre a sua presença ali, um dos militares – neste caso Carlos Caetano – terá acertado com as algemas na mão e acusado o arguido de ser um “pilha galinhas” e de estar ali para roubar. O mesmo militar terá partido para a agressão, altura em que Pedro Dias alcança a sua arma e dispara. “O objetivo não era matar, era assustar. Eu queria era que parassem as agressões”, justificou. De notar, no entanto, que o colega António Ferreira nunca mencionou qualquer tipo de agressão por parte de Caetano.
Nega homicídio de civis
Pedro Dias contou ainda que pediu a António para pôr o corpo do colega na bagageira e conduzir o carro da GNR. Entre algumas indecisões quanto ao percurso, encostam o carro e um outro pára atrás deles.
Do outro veículo saíram Luís e Liliane Pinto e, de acordo com o arguido, o militar saiu do carro e Pedro Dias, para o seguir, empurrou Luís Pinto para cima de António. Foi nesse momento que ouviu um disparo vindo da arma do militar, mas que não acertou em ninguém. Pouco depois, um segundo disparo atingiu Luís e é nesse momento que Pedro Dias diz ter fugido para o mato, de onde ouviu mais “dois ou três tiros”.
Quando voltou para perto dos carros, os dois civis tinham sido baleados e levou consigo o militar para uma zona de mato, onde pediu a António para se algemar a uma árvore. No entanto, terá sido aí que António Ferreira se atirou para cima dele e Pedro Dias, com uma arma na mão, disparou. “Aí percebi que tinha acertado na face. Pensei em dar um tiro na minha cabeça.”
Pedro Proença, advogado dos dois militares baleados, diz que a versão contada por Pedro Dias é um insulto às vítimas e pede pena máxima para Pedro Dias.
A audiência prossegue hoje, com as alegações finais por parte dos assistentes e da defesa de Pedro Dias.