No seu discurso do estado da nação, Cyril Ramaphosa, o novo presidente da África do Sul, vai anunciar hoje as bases do seu plano contra a corrupção, enquanto pretende estender a mão aos partidos da oposição para que possam trabalhar em conjunto na luta contra um problema que alastrou durante os mandatos de Jacob Zuma, que na quarta-feira à noite apresentou a sua demissão, depois de pressionado pelo seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC na sigla em inglês).
“Uma das coisas que vou procurar fazer é trabalhar com todos os partidos políticos, encontrar–me com os líderes de todos os partidos, de modo a que possamos arranjar uma forma de trabalhar em conjunto”, disse o novo chefe de Estado.
Ramaphosa, de 65 anos, líder eleito do ANC em dezembro e responsável por convencer os dirigentes do partido a forçar a demissão de Zuma, foi ontem aclamado como novo presidente do país pelo parlamento sul–africano, onde teve mesmo direito a canção celebratória. O agora presidente era o único candidato à sucessão.
“A captura do Estado e a questão das empresas públicas são questões que estão no nosso radar. Estes são assuntos que vamos abordar e vou esboçar como planeamos lidar com isso no [discurso do] estado da nação” de hoje, disse.
A sua eleição, ontem, no parlamento, apesar de recebida em clima de festa, não foi consensual. Os deputados da terceira maior força política, os Lutadores da Liberdade Económica (EFF na sigla em inglês) do antigo dirigente da juventude do ANC Julius Malema, abandonaram a assembleia por considerarem a eleição ilegítima. Diz o EFF que o Tribunal Constitucional considerou que o parlamento falhou em cumprir a Constituição e o que se exige são novas eleições que permitam aos sul–africanos escolher novo líder.
Mmusi Maimane, líder da Aliança Democrática, principal força da oposição, recebeu com cautela a eleição de Ramaphosa, lembrando que a África do Sul não tem “um problema Jacob Zuma”, aquilo que tem é “um problema ANC”. Daí que tenha aproveitado também para referir a necessidade de eleições antecipadas: “Este é um momento no nosso país em que temos de nos voltar para as pessoas da África do Sul e pedir-lhes um novo mandato”, disse Maimane, primeiro líder negro de um partido conservador branco que apoiou o apartheid.
O conflito na Assembleia Nacional foi-se tornando permanente ao longo dos quase nove anos da presidência de Zuma. Ramaphosa lembrou isso ontem, na câmara, ao especificar que pretendia trabalhar para melhorar o nível do debate: “Seria magnífico que o nível do debate nesta câmara pudesse ser elevado até um nível em que possamos discutir assuntos de interesse nacional sem gritar uns com os outros. Eu gostaria que elevássemos o nível.”