Alvo dos sobreviventes e dos familiares das vítimas mortais por nada fazer em relação ao controlo de armas nos Estados Unidos, Donald Trump resolveu no sábado à noite desviar as atenções para o FBI, acusando-o de estar mais preocupado em investigar as relações da Rússia com a sua campanha do que em prevenir o massacre da Florida.
O FBI pediu desculpa por não ter investigado a denúncia em relação a Nikolas Cruz, o jovem de 19 anos que na quarta-feira matou 17 pessoas na sua antiga escola, e o presidente dos EUA atacou forte contra a agência num dos seus tweets: “É muito triste que o FBI não se tenha apercebido dos muitos sinais enviados pelo atirador da escola da Florida. Não é aceitável. Estão a gastar demasiado tempo a tentar provar o conluio russo com a campanha Trump – não existe nenhum conluio. Regressem ao que é importante e deixem-nos orgulhosos!”
Robert Mueller, o procurador especial que investiga a interferência russa na campanha presidencial de 2016 e a sua relação com o círculo próximo de Trump, acusou formalmente, na sexta-feira, 13 cidadãos e três empresas russas por envolvimento no caso.
No sábado, sobreviventes do massacre de quarta-feira, o mais sangrento desde 2012, anunciaram uma marcha nacional em Washington, no dia 24 de março, para exigir ao poder político que faça mais para controlar as armas nos EUA.
Os estudantes e os familiares das vítimas mortais gritaram ao presidente e ao congresso: “Tenham vergonha!” Cameron Kasky, uma das sobreviventes, disse: “Vamos perdendo as nossas vidas, enquanto os adultos andam a brincar.” Outra estudante, Emma Gonzalez, foi mais longe: “Se o presidente quiser vir aqui dizer-me na cara que foi uma tragédia terrível e nada vai ser feito em relação a isso, vou gostar de lhe perguntar quanto dinheiro recebeu da National Rifle Association.” A mais antiga organização de direitos civis ainda em atividade é um poderoso lóbi defensor da Segunda Emenda da Constituição, que dá aos cidadãos o direito ao porte de armas.
Na primeira vez em que se referiu ao problema das armas no país depois do massacre de quarta-feira, Trump colocou o ónus no Partido Democrata, a quem acusou de não querer agir em relação ao tema.
“Tal como não querem resolver o problema do DACA [programa que visa regularizar a situação dos filhos dos imigrantes ilegais], por que razão os Democratas não aprovaram legislação sobre o controlo das armas quando controlavam Câmara dos Representantes e o Senado durante a administração Obama? Porque não quiseram e agora é só conversa!”, escreveu o chefe de Estado.
Trump acusou também Obama e os democratas de nada fazerem para travar a interferência da Rússia no processo eleitoral norte-americano, sem se mostrar preocupado, por um momento, que a investigação de Mueller tenha chegado à conclusão que a Rússia está a travar uma guerra de desinformação e propaganda com os EUA.