Sob pressão máxima para alterar a lei de compra e venda de armas nos Estados Unidos depois do tiroteio da última semana na Florida, o presidente norte-americano anunciou esta terça-feira à noite uma alteração mínima que está há meses a aguardar aprovação no Congresso.
Na antecipação de grandes protestos em nome de regras mais severas para a compra de armas, Donald Trump anunciou que proibirá a venda dos mecanismos que permitem transformar espingardas semiautomáticas, que dispararam uma bala a cada vez que o gatilho é premido, em armas quase automáticas, que disparam várias balas com um toque apenas.
A lei pouco fará por evitar os protestos nacionais que estão anunciadas para as próximas semanas, em grande medida mobilizados por organizações de jovens sobreviventes ao tiroteio na escola Stoneman Douglas. A proibição, por exemplo, não evitaria os 17 mortos da semana passada na Florida. A arma usada por Nikolas Cruz, o atirador de 19 anos, era semiautomática e, que se saiba, não usou o mecanismo que Trump vai proibir. Mesmo assim, Cruz matou e feriu dezenas de pessoas em apenas seis minutos com o engenho do tipo AR-15.
A proibição de Trump inspira-se num outro tiroteio: o massacre de Las Vegas, em outubro do último ano, no qual o atirador usou estes mecanismos – que em inglês se chamam “bump stocks” – para acelerar o ritmo de disparo contra a multidão de 20 mil pessoas que assistia a um concerto. Nesse dia morreram 58 pessoas e mais de 800 ficaram feridas. A lei que Trump anunciou esta terça, aliás, foi apresentada no Congresso no rescaldo do tiroteio de Las Vegas, o mais letal na História dos Estados Unidos, mas viu-se congelada sobretudo por ação dos congressistas conservadores.
Reagindo ao tiroteio na Florida, alguns estados começaram a proibir autonomamente estes mecanismos. “Podemos fazer mais para proteger as nossas crianças”, disse esta terça Donald Trump. “Devemos fazer mais para proteger as nossas crianças”, acrescentou, depois de segunda-feira ter sinalizado que está de acordo com uma lei em debate no Congresso para melhorar o registo nacional de perturbações mentais que podem impedir a venda de armas – algo que também não impediria os tiroteios na Florida e Las Vegas.
A medida anunciada esta terça à noite é modesta e está muito aquém das exigências dos estudantes sobreviventes do tiroteio na Florida, que exigem proibições à venda de armas semiautomáticas como a que foi usada na escola Stoneman Douglas e em praticamente todos os tiroteios norte-americanos dos últimos 20 anos.
Esta terça-feira começaram a chegar a Washington os primeiros grupos de estudantes vindos da Florida, que hoje se encontram com Trump na Casa Branca e se preparam para semanas de ativismo e protestos que culminarão numa grande marcha nacional a 24 de março. A escola Soneman ainda está encerrada e só deve reabrir daqui a uma semana.