Sob o olhar de dezenas de adolescentes que sobreviveram ao tiroteio da semana passada na escola secundária Stoneman Douglas e esta quarta-feira estavam na capital do estado da Florida, os 71 legisladores da maioria republicana em Tallahassee recusaram uma proposta que proibiria o tipo de espingardas automáticas usadas na matança da semana passada e na esmagadora maioria dos tiroteios norte-americanos contra escolas e locais públicos nos últimos 20 anos.
A decisão provocou protestos e choro nas bancadas do Capitólio e no exterior do edifício. No resto do país, em solidariedade com os estudantes do liceu Stoneman Douglas, centenas de alunos, professores e outros cidadãos saíram às ruas para defender leis mais severas contra espingardas automáticas, engrossando aquele que é considerado o mais robusto movimento nacional por uma reforma nas regras de armas de fogo nos Estados Unidos de que há memória.
Os republicanos não quiseram sequer ouvir os argumentos dos democratas, em minoria. Sob pressão nacional, alguns legisladores conservadores na Florida vêm dizendo em público que estão dispostos a aumentar a idade mínima exigida para a compra de espingardas automáticas dos atuais 18 anos para os 21, como é exigido para comprar uma pistola.
A proibição de espingardas automáticas como a que Nikolas Cruz usou na semana passada para matar 17 pessoas em menos de seis minutos, porém, parece fora de questão. “Não podemos travar todos os malucos”, disse esta quarta uma congressista republicana na legislatura, Debbie Mayfield, conversando com os estudantes no Capitólio.
"Quero uma proibição de armas semiautomáticas”, respondeu Amanda de la Cruz, de 16 anos, citada pelo “New York Times”. “Não quero saber dos malucos.”
Na manhã desta quarta-feira não houve debate sobre armas no Capitólio da Florida mas, de tarde, os mesmos congressistas republicanos que recusaram considerar uma proibição das espingardas votaram em bloco uma moção que designa a pornografia um “risco de saúde pública”. “Já alguma pessoa morreu como resultado dos riscos para a saúde da pornografia?”, questionou o congressista democrata Carlos Guillermo Smith.
“Supostamente tenho de voltar à escola daqui a uma semana”, lançou um dos estudantes que viajou até Tallahassee, na sequência do voto no Capitólio, chamando a atenção para a grande marcha nacional planeada para Washington, no dia 24 de março. “Não estou preparado. Não acho que alguém aqui esteja preparado para ir para a sala de aula e ver lá apenas um lugar vazio, e saber que está vazio porque alguém está morto.”