O último Open da Austrália revelou o nome de Tennys Sandgren, um norte-americano de mãe sul-africana, pai americano e avô sueco, que rapidamente passou de bestial a besta por terem-se descoberto no Twitter mensagens (entretanto apagadas) indicadoras de homofobia, racismo e tendências de extrema direita.
O sucesso dos quartos de final de um torneio do Grand Slam passou quase para segundo plano e os media e as redes sociais exacerbaram a polémica ligada às ideologias supostamente defendidas pela antiga estrela do ténis universitário.
Felizmente para Tennys Sandgren a súbita e inesperada passagem do anonimato para o centro do ‘planeta ténis’ aconteceu aos 26 anos, numa altura em que está psicologicamente mais estruturado para aguentar a enorme pressão mediática e pública a que foi sujeito.
Nas conferências de imprensa defendeu-se. Clamou pela liberdade de expressão, atacou a hipocrisia dos media e negou muitas das acusações. Alguns jogadores que o conhecem melhor, como John Isner, asseguram que é um «bom rapaz», mas da fama não se livrará tão cedo.
No meio desta tempestade, foi quase irónico que tenha sido o histórico enfant terrible do ténis, John McEnroe, a dar uma lição de serenidade, mas também de intransigência face à intolerância.
Na sua rubrica O Comissário transmitida pelo Eurosport, McEnroe recorreu à sua veia política democrática, quase antirrepublicana, para passar uma mensagem digna de um estadista.
É impossível transcrever na totalidade, como gostaria, o conteúdo notável de McEnroe, mas aqui ficam alguns excertos e exorto-vos a consultarem o vídeo no Facebook:
Não estou aqui para julgar-te. Não te conheço, não sei qual a educação que recebeste, mas ouvi-te dizer que queres aprender e que só tens 26 anos. (…) Em 1937, o grande jogador alemão Gottfried von Cramm recebeu um telefonema de Adolf Hitler a desejar-lhe boa sorte antes de um encontro em Wimbledon. Poucos meses depois foi detido e perseguido pelos nazis por ser homossexual. (…) Em 1969 Arthur Ashe viu-lhe recusado um visto para jogar na África do Sul porque era negro. Entrou então numa guerra contra o apartheid e conseguiu que esse país fosse excluído da Taça Davis. Entretanto, Billie Jean King encetava o seu combate pela igualdade de géneros no desporto e na sociedade. (…) Ao brilharmos no court temos uma responsabilidade. Como cidadãos do Mundo temos de ostentar uma mensagem: ‘Abracemos as nossas diferenças’. Asseguro-te que enriquecerás dez vezes mais do que com qualquer vitória em torneios do Grand Slam».