O Comité Internacional da Cruz Vermelha pôs esta sexta-feira as cartas em cima da mesa e anunciou que nos últimos três anos descobriu que 21 funcionários pagaram por serviços sexuais, violando o regulamento interno da grande organização de assistência humanitária e engordando o número de instituições que por estes dias se vão confrontando com casos de abusos ou comportamentos sexuais impróprios.
O diretor-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Yves Daccord, afirma que deu ordens para que a instituição verificasse os seus casos de má conduta sexual em nome da transparência. Esta operação vem sendo posta em prática nas últimas semanas por várias organizações, que, no rescaldo dos abusos e polémicas sexuais denunciados na britânica Oxfam, procuram avaliar a sua própria conduta.
“Instrui as minhas equipas para que vasculhassem a informação de que dispomos no que diz respeito a más condutas sexuais e posso anunciar que desde 2017 identificámos 21 funcionários que, ou foram demitidos na sequência de terem oferecido dinheiro por serviços sexuais, ou se demitiram no finalizar de uma investigação interna”, anunciou na sexta-feira Yves Daccord, em Genebra.
Segundo Daccord, a organização anuncia estes números na tentativa de contribuir para o debate em torno das práticas sexuais indevidas no mundo das instituições humanitárias que intervêm em várias partes no mundo. “É um dia difícil, mas necessário”, afirmou o diretor do Comité Internacional, pouco depois de a Plan Internacional, que trabalha com crianças, ter admitido seis casos de abuso sexual ou exploração de menores no seio da sua organização.
“Este comportamento é uma traição das pessoas e comunidades que servimos”, prosseguiu Daccord. “Está contra a dignidade humana e deveríamos ter sido mais vigilantes de forma a impedi-lo”, disse. O Comité Internacional anunciou também na sexta-feira que doravante lidará com quaisquer futuras alegações de má conduta sexual com severidade e de forma sistemática.
Também na sexta-feira, os diretores de 22 organizações humanitárias por todo o mundo publicaram um abaixo-assinado no qual pedem desculpa pelos comportamentos sexuais abusivos ou impróprios por parte dos seus funcionários. Na carta, assinada, por exemplo, pelos chefes da Save The Children e Oxfam, as duas maiores organizações britânicas, os líderes de instituições humanitárias prometem instaurar mecanismos que evitem abusos futuros.