O novo Cais do Ginjal vai ter casas, praças e hotéis

De um lado, o Tejo. Do outro, armazéns ao abandono. O atual cenário do Cais do Ginjal está prestes a mudar e onde agora se veem ruínas vai erguer-se uma nova margem Sul.

Passear no Cais do Ginjal durante o inverno pode tornar-se um desafio. Há que fugir às poças de água, desviar-se da maré cheia e confiar numa arriba que cresce por detrás de fábricas em ruínas com sinais de «perigo de derrocada».

Aquele que foi em tempos um dos principais pontos de indústria e comércio da região, onde coabitavam armazéns de vinho, fábricas ligadas às conservas e espaços de apoio à frota pesqueira, está neste momento ao abandono. Ou estava. Agora, depois de anos de projetos adiados, a Câmara Municipal de Almada vai avançar com um Plano de Pormenor que promete mudar a face daquela margem.

O Cais do Ginjal prepara-se para albergar casas, hotéis, lojas, restaurantes, praças e um passeio marítimo com largura suficiente para uma travessia em segurança. «Há que perceber o contexto de uma zona que sempre foi industrial», explica ao SOL o arquiteto Veríssimo Paulo, justificando assim o atual passeio curto, feito para tornar também mais curta a viagem dos pescadores que levavam mercadoria às costas entre os barcos e as fábricas, ou até mesmo as janelas minúsculas, ainda que viradas para o rio. «As pessoas estavam aqui para trabalhar e não para apreciar a paisagem», acrescenta um dos responsáveis pelo projeto.

A construção do projeto imobiliário deverá arrancar ainda este ano, segundo as perspetivas da presidente da Câmara, Inês de Medeiros, e de Teixeira Sousa, administrador do grupo madeirense AFA, detentor do espaço. Mas, para já, a única data com que a autarquia se compromete é a de fazer de junho o mês limite para que esteja pronto o projeto final, elaborado tendo em conta também as mais de vinte participações da população recebidas durante a discussão pública. A partir daí, não existem prazos, «uma vez que, neste caso, a chave são as pessoas. Não vale a pena ter os espaços construídos se não forem atrativos», refere Paulo Pardelha, diretor do Departamento de Planeamento Urbanístico da Câmara de Almada. Mas, tendo em conta o recente interesse de investidores na zona, esse não será um problema.  «Nunca tivemos tanta procura como nos últimos dois anos. Tendo em conta os preços praticados em Lisboa, os investidores estão finalmente a passar a margem.»

O novo cais

Da autoria do arquiteto Samuel Torres de Carvalho, o projeto prevê a construção de 330 casas, um parque de estacionamento, um hotel, quiosques, praças e espaços para indústrias criativas. 

Mas antes de tudo, há que tratar da segurança. «A primeira coisa a fazer é estabilizar a arriba e alargar o cais», refere Paulo Pardelha. 

Além disso, e já a pensar nas alterações climáticas e consequente subida do nível das águas, a altura do cais vai ser elevada em um metro. 

Com um plano traçado – ou quase – a autarquia lida agora com uma população dividida entre o querer ver o espaço renovado e a resistência à mudança. «Há sempre quem queira preservar a memória do espaço, mais do que dar vida ao cais», garante Paulo Pardelha. Mas, para essas pessoas, o responsável deixa uma certeza: «O cais vai manter-se, a construção terá no máximo dois pisos – salvo raras exceções – e toda a fachada será preservada». Até porque, durante o estudo sobre o local, percebeu-se que toda a fila de armazéns e fábricas servirá de resguardo às traseiras, para onde toda a zona vai crescer. «Mais do que duplicar o espaço público, queremos conquistar o espaço atrás da frente ribeirinha», acrescenta.