Internet of Things (IoT) e a Inteligência Artifical não são conceitos novos para qualquer pessoa minimamente envolvida com temas de inovação e tecnologia. Para muitos dos embaixadores da causa, estamos perante um fenómeno que terá para a história da humanidade um impacto maior do que a revolução industrial acelerada pela máquina a vapor de Watt.
Estima-se que em 2020 serão cerca de 30 biliões os terminais permanentemente ligados à internet (statista.com). Um número que representa um incremento de 50% face a 2017. Mas apesar do impacto dos números, o mais intrigante é perceber o que é que estas máquinas vão estar a fazer para, por e em vez de nós. E, consequentemente, o que é nós vamos estar a fazer.
Os argumentos racionais da IoT são poderosos. As tarefas rotineiras, que podem ser automatizadas, devem sê-lo, por uma questão de eficácia e de eficiência. Isto é verdade tanto para a vida das empresas como para o quotidiano das pessoas: se o frigorífico deteta que não há leite e informa diretamente uma plataforma de e-commerce que assegura a entrega do produto em casa, quer eu esteja quer não esteja, poupo muitos recursos importantes. À cabeça tempo, que, a par da saúde, é o nosso bem mais precioso e que prefiro usar para outras coisas do que para repor as mercearias em falta.
Na realidade empresarial o impacto ainda é maior. Da saúde aos transportes, da segurança aos serviços financeiros, a IoT está cada vez mais presente, acelerando processos, aumentando a capacidade de recolha, tratamento e utilização de dados, garantindo uma redução da barreira da distância física, limitando o erro humano.
A IoT não é o futuro, é o presente. E, num futuro próximo, todas as evidências apontam para uma maior inteligência das máquinas e uma cada vez mais intensa utilização em praticamente todas as áreas. Ou seja, em muitas coisas a intervenção do homem tornar-se-á dispensável e, muito provavelmente, será dispensada.
E nós, as pessoas, onde ficamos?
Não acredito que nos tornaremos reféns das máquinas. Sem dúvida que seremos cada vez mais dependentes e nos próximos anos é provável que nos venhamos a esquecer como se fazem muitas das coisas que hoje estão completamente enraizadas nas nossas rotinas, como conduzir, limpar ou digitar um texto num teclado. A tecnologia, nalguns casos ainda em fases muito primárias de desenvolvimento, evoluiu já no sentido de nos substituir nestas tarefas.
Mas não podemos esquecer que a IoT é racional, é cognição e não interpreta estados emocionais, não se apaixona nem se comove. Executa protocolos e algoritmos, cria pouco se é que alguma coisa, testa, valida, interpreta e conclui. Porém, recorrendo ao jargão publicitário, não tira coelhos da cartola. Sobre este tema, o fundador do Ali Baba, Jack Ma, não tem dúvidas em afirmar que numa disputa entre humanos e inteligência artificial, os humanos ganham. E explica a diferença entre sabedoria, que é do homem, e o conhecimento, onde a máquina é infinitamente superior. O homem sábio cria, distingue o que quer e o que não quer. A máquina, apesar de cada vez mais esperta, executa e aprende.
Esta semana a Vodafone promoveu uma conferência sobre IoT. Abordaram-se muitas questões que este debate suscita, mas duas ideias tocaram-me especialmente. Uma é a de que o futuro não é uma extensão do presente, a outra é que não conseguimos acompanhar a inteligência artificial em termos de QI, tal como ela também nunca nos acompanhará no QE. Estas duas ideias ajudam a perceber qual será o nosso papel perante o crescimento exponencial da IoT. E deixa-me satisfeito e otimista porque acho que vamos ficar com a melhor parte, a criação, as ideias, de termos não só o exclusivo do pensamento criativo e divergente, como muito mais tempo e estímulo para o executar.
Volto ao Jack Ma para recordar umas das suas afirmações polémicas, a ideia que dentro de trinta anos trabalharemos quatro horas por dia, quatro dias por semana. Acredito que seja possível e o avanço da IoT é fundamental para que tal possa acontecer. Acrescento ainda que, para quem não gosta muito de rotinas como é o meu caso, além de menos horas de trabalho vamos poder trabalhar desafios muito mais interessantes e contar com uma capacidade de execução incrivelmente superior.
Qualquer coisa que um homem consegue imaginar, outro homem consegue torná-la real. É uma das frases mais inspiradoras que conheço, atribuída a Júlio Verne. Porém, hoje é mais do que justo manter a ideia, mas acrescentar uma pequena correção, é que o outro não tem necessariamente de ser um homem.
*Responsável Planeamento Estratégico do Grupo Havas Media