A história não é bonita. Há seis meses, segundo a revista Visão, o ministro das Infraestruturas, Pedro Marques, pediu ao ministro das Finanças, Mário Centeno, para avançar com obras de recuperação na ponte 25 de Abril. Durante esses seis meses, todavia, nada aconteceu. O facto de o Laboratório Nacional de Engenharia Civil pedir "reparações urgentes" devido a parafusos soltos e a um "risco de colapso" não motivou o governo a agir.
Só quando a Visão confrontou o respetivo ministro é que se decidiu, aí sim, conceder 18 milhões de euros para impedir a queda de uma ponte percorrida por milhares de portugueses todos os dias.
Dito de outro modo: quando um organismo do Estado do alerta e um governante pede, o governo é mudo; quando a imprensa sabe e a popularidade treme, o governo mexe-se. Surpresa? Em relação a este governo, nenhuma. Há muito tempo que a gestão orçamental do ministro Centeno é um risco para as infra-estruturas do Estado (basta lembrar a Proteção Civil no verão passado) e uma ameaça aos serviços públicos (basta olhar para o Serviço Nacional de Saúde de hoje).
O governo gere as suas prioridades para as suas clientelas e cativa o suficiente para essas prioridades cumprirem as metas europeias. Se fosse sustentável, alguém já o teria feito. Mas não é.
Durante seis meses o governo soube que a ponte 25 de abril estava em risco e durante seis meses o governo não fez nada. A pergunta que se impõe é simples: são quantas pontes, sr. ministro? Quantas infra-estruturas públicas estão "em risco" de desabar amanhã?
Imaginando o pior, não deixa de ser tão triste quanto previsível. Mais uma tragédia a estragar mais um festival da canção. O processo de descentralização de responsabilidades entraria prontamente em curso: do governo para o LNEC, do LNEC para "os privados", dos privados para o "governo anterior", do governo anterior para a "austeridade" e da austeridade para "Bruxelas". No fim, choraríamos todos ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e carpideira de cativações.