As fissuras na Ponte 25 de Abril que podem colocar em causa a segurança da travessia são conhecidas há dois anos, mas o presidente da Infraestruturas de Portugal disse ontem que as obras que agora deverão finalmente avançar não são urgentes e que, se houvesse perigo, a ponte estaria fechada. Apesar das garantias dos responsáveis, as reações à existência de um relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) que pede intervenção imediata dão a entender que os esclarecimentos estão longe de ser suficientes.
O documento tornado público pela “Visão” refere fissuras uma zona estrutural e não afasta a hipótese de risco de colapso. Já outros relatórios mensais do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), também citados pela revista, dão conta de outros avisos sobre sinais de degradação como parafusos soltos.
O CDS quer ouvir Mário Centeno, já que só esta semana o Ministério das Finanças autorizou a libertação de verbas para a intervenção, pedido feito há seis meses pelo Ministério do Planeamento e Infraestruturas. É preciso esclarecimentos para que “não exista qualquer tipo de alarme”, justificou o deputado Helder Amaral. Já o BE quer saber por que motivo o pedido de verbas esteve seis meses bloqueado nas Finanças, quais os riscos que decorrem do atraso e por que motivo será o Estado a suportar a intervenção, num total de 20 milhões de euros, quando a Ponte de 25 de Abril está concessionada à Lusoponte, naquela que foi a primeira experiência de uma parceria público-privada no país.
Marcelo apelou à tranquilidade: “Não sejamos alarmistas. O que há é duas coisas: há um relatório que aponta para urgência em obras – não quer dizer que a ponte esteja a cair; e há o Governo que percebe a urgência e que determina essas obras”, disse o Presidente.
Obras anunciadas na véspera de publicação da revista Um dia antes de a revista “Visão” chegar às bancas, na quarta-feira, a Infraestruturas de Portugal anunciou que o concurso público para a empreitada de trabalhos de reparação e conservação da Ponte 25 de Abril será lançado ainda este mês, com um preço base de 18 milhões de euros e um prazo de execução da obra de dois anos, mas o valor final deverá exceder os 20 milhões.
De acordo com a “Visão”, que até ao fecho da edição não tinha tido resposta das Finanças, a expectativa do executivo é que as obras condicionem apenas um pouco o trânsito.
Já se a intervenção não avançar depressa, os peritos entendem que poderá ser necessário restringir o tráfego de pesados e comboios de mercadoria. Diariamente passam na ponte inaugurada a 6 de agosto de 1966 cerca de 160 mil automóveis e 160 comboios, sendo que a travessia ferroviária foi inaugurada em 1999.
O Bloco admite propor o fim das portagens caso as obras condicionem a travessia. Segundo a “Visão”, as receitas das portagens na ponte chegam anualmente aos 40 milhões de euros, o dobro do que será necessário para a obra. Mas ao contrário da Ponte Vasco da Gama, em que a construção mas também a manutenção integra as incumbências da Lusoponte, no caso da 25 de Abril as obras de fundo estão a cargo do Estado.