Que grande diferença faz Ricardo Melo Gouveia em apenas um ano. A meio de março de 2017 tinha disputado sete torneios e passara apenas dois cuts, com um 23º lugar no Abu Dhabi e um 62º no Tschwane Open.
Em 2018 tudo mudou para melhor. Na semana passada andou no 4º lugar do Tshwane Open, na África do Sul, onde terminou em 29º, e esta semana liderou o Hero Indian Open aos 9 buracos, fechou a prova no 16º posto e igualou a sua melhor classificação da presente temporada, alcançada em dezembro, no Open das Maurícias.
Talvez o dado mais importante de todos seja o facto de em nove torneios disputados ter passado o cut em seis – e os três últimos foram consecutivos, pois tinha sido 61º no Masters do Qatar na semana anterior ao torneio do Pretória Country Club.
Ora Ricardo Melo Gouveia ainda não tinha passado três cuts seguidos em torneios do European Tour esta época. Não o fazia desde o final de 2017 e a regularidade de superar muitos cuts foi um dos seus pontos fortes em 2015, quando se tornou no primeiro português a sagrar-se nº1 do Challenge Tour, a segunda divisão europeia, e em 2016, quando foi o primeiro luso a apurar-se para o DP World Tour Championship.
É claro que no European Tour, a primeira divisão, não chega ultrapassar cuts e é por isso que, apesar destes resultados positivos, o representante do Team Portugal é “apenas” o 114º classificado na Corrida para o Dubai, sabendo-se que só o top-100 no final do ano mantém o cartão com direitos para competir na elite europeia.
Mas passar muitos cuts transmite-lhe a confiança de mais tarde ou mais cedo arrancar uma grande classificação, como fez Matt Wallace, o inglês que até esta semana não tinha conseguido melhor do que um 19º lugar no European Tour de 2018 (no Qatar) e que saiu de Nova Deli com o segundo título da sua carreira, para juntar ao do Open de Portugal, averbado em maio último, no Morgado Golf Resort.
Wallace (voltas de 69, 70, 60 e 68), de 27 anos, derrotou Andrew “Beef” Johnson (72+66+73+66) no play-off, depois de terem empatado com 277 pancadas, 11 abaixo do Par do duro teste que é o DLF Golf & Country Club.
«Parabéns ao Matt Wallace por ter terminado no topo», escreveu Ricardo Melo Gouveia no Twitter, acrescentando que, da sua parte, «foi uma semana positiva», que transmitiu «bons sinais sobre o jogo».
O profissional da Quinta do Lago somou 288 pancadas, a Par do campo, com voltas de 69, 73, 71 e 75, e arrecadou o seu prémio mais elevado da época, de 18 mil euros, do total de 1,4 milhões que estavam em jogo. Wallace embolsou 235.495 euros.
Uma prestação de autêntica montanha russa que levou-o à liderança esporádica aos 9 buracos, ao top-10 aos 18 e aos 54 buracos e ao 16º posto final, num campo que ele tinha catalogado de «traiçoeiro» nas redes sociais e que no ano passado fora considerado um dos mais difíceis do European Tour.
«Sinto que o meu jogo está, devagar, a voltar ao nível que desejo», disse o jogador do ACP Golfe à Tee Times Golf, depois de mostrar na Índia um jogo mais completo, com 1,7 putts de média por cada green em regulação e uma precisão de drive de 83%.
«Comecei a trabalhar com um instrutor de putt no final do ano passado, o Paul Hurrion, que trabalha também com o Danny Willett (campeão do Masters em 2016), fizemos algumas alterações importantes e sinto bastantes melhorias», acrescentou o nº1 português.
Outro dos aspetos em que se notou progressos em Ricardo Melo Gouveia foi a forma como lidou com a dificuldade do campo. Felizmente, o contexto meteorológico foi benigno – «foram quatro dias muito parecidos, com 30 graus todos os dias e relativamente pouco vento» – pois as condições de jogo já eram suficientemente desafiantes.
«Este campo é bastante penalizador e este ano o dono quis alterar algumas coisas no setup do campo para fazer-nos a vida negra», afiançou o golfista português da Srixon, opinião corroborada pelo caddie de Matt Wallace, Dave.
«Ele disse-me que este setup fazia-lhe lembrar às vezes os dos US Opens. Podemos arrancar grandes shots e mesmo assim irem parar ao rough», frisou o campeão do Open de Portugal.
O DLF Golf & Country Club, desenhado pelo campeoníssimo Gary Player e inaugurado em 2015 é um tremendo desafio, mas Ricardo Melo Gouveia apreciou-o de sobremaneira: «Estava em excelentes condições, com os greens rápidos e a rolarem bastante consistentes. Um campo bastante penalizante, com muita água, arbustos e greens bastante ondulados».
Nestas circunstâncias, os jogadores sabiam à partida que haveria maus buracos. Veja-se como o campeão fez 1 duplo-bogey e sofreu ainda 9 bogeys nos quatro dias de prova e nunca teve uma volta imaculada.
Também Ricardo Melo Gouveia não evitou 2 duplos-bogey, aos quais se acrescentaram 12 bogeys, tudo compensado com 16 birdies. Foi uma luta constante em todas as voltas e o português residente em Londres mostrou força mental para inverter tendências negativas.
Um bom exemplo foi o dia de hoje: começou mal, com 3 bogeys em 6 buracos, mas depois vieram 2 birdies. Mais uma série negra de 4 bogeys consecutivos, mas depois encerrou a prova com os últimos 5 buracos jogados em 2 abaixo do Par e logo na zona mais difícil do campo.
O atleta olímpico português poderá estar tecnicamente mais evoluído mas também manifestou aquela força psicológica que o caracterizou nas suas duas primeiras épocas como profissional.
«Sabia que iria ser uma semana difícil a nível mental e que teria que ter bastante paciência e uma boa atitude. Sinto que estive bem nessa parte e isso sem dúvida ajudou-me a recuperar de momentos menos bons», assinalou.
No final do ano passado também comecei a trabalhar mais a sério a parte mental com o David Lewellyn (o seu treinador de há muito) e o Tiago Boto. Estou devagarinho a colher esses frutos e sinto-me no caminho certo», concluiu.
Ricardo Melo Gouveia só voltará a competir no European Tour a partir de 12 de abril, no Open de Espanha, e é provável que perca algumas posições na Corrida para o Dubai, depois de esta semana ter recuperado de 133º para 114º, mas com a confiança em crescendo, sabe que a primavera poderá trazer-lhe o regresso ao top-100 europeu.
Hugo Ribeiro / Tee Times Golf