Rex Tillerson chegou esta terça-feira ao fim de um caminho que há muito se antevia curto. Termina-o consensualmente mal. O empresário virado o diplomata máximo dos Estados Unidos ficará na história como um dos mais inconsequentes e desastrosos secretários de Estado do país.
É possível somar-se mais adjetivos e difícil encontrar quem os dispute. Tillerson deixa a diplomacia americana em farrapos, quase comicamente afastado de um presidente cujos impulsos supostamente ajudaria a conter e que o desautorizou a cada momento importante nos seus 14 meses de governo.
É sintomático que o seu ato mais relevante tenha sido chamar a Donald Trump um “fucking moron” – ou “uma besta de merda, numa tradução difícil e, provavelmente, demasiado branda. Tillerson nunca o negou e foi esta terça despedido sem aviso para além daquele que John Kelly lhe deu na sexta-feira, ao dizer “talvez recebas um tweet”.
A sua saída já vinha sendo anunciada desde dezembro. Substitui-lo-á o atual diretor da CIA, Mike Pompeo, um durão ultraconservador do movimento Tea Party, crítico do acordo nuclear iraniano, mais ao gosto do presidente, e um homem que pode não deixar pedra sobre pedra no que diz respeito à herança diplomática de Barack Obama.
Tillerson provocou um abalo sísmico no Departamento de Estado. Sob o seu comando demitiram-se 60% dos diplomatas seniores, cujos cargos estão, em larga medida, ainda por preencher. Acontece o mesmo com outras posições importantes.
Não há embaixador americano na Coreia do Sul, por exemplo, na eminência de negociações diretas entre Donald Trump e Kim Jong-un e ao fim de um ano em que os EUA e a Coreia do Norte se aproximaram de um confronto militar sangrento. Os especialistas que restam para o Médio Oriente, Ásia e África operam praticamente sem contacto com a liderança e, segundo descreve o “New York Times”, até a CIA e o Pentágono têm dificuldade em falar por telefone com Rex Tillerson dada a desorganização do departamento.
Em parte são resultados inevitáveis de um governo que prefere aumentar a despesa militar e emagrecer o corpo diplomático. No ano passado, Trump propôs um corte draconiano de 30% ao orçamento do Departamento de Estado, que Rex Tillerson defendeu sob o prisma empresarial que era suposto levar para o governo desde a Exxon Mobile. O objetivo era cortar nos meios e aumentar a eficácia, mas Tillerson não conseguiu um nem o outro.
O corte seria de tal forma drástico que militares e congressistas republicanos intervieram e travaram-no. “Acho que ele será lembrado como um dos piores secretários de Estado que tivemos”, dizia esta terça o ex-conselheiro de George W. Bush, Eliot Cohen. “Ficará conhecido como o pior secretário de Estado na História”, afirmava, por sua vez, Ilan Goldenberg, diplomata de Obama.
O corte de 30% evitou-se, mas Trump e Tillerson orquestraram uma reorientação dos meios para longe das operações estritamente diplomáticas do Departamento de Estado. Trata-se de um dos poucos pontos de contacto entre os dois homens separados, como escreve o correspondente da BBC nos Estados Unidos, Jon Sopel, por “diferentes temperamentos, posturas e estilo”.
E também política: Rex Tillerson, por exemplo, defendia a permanência no Acordo de Paris para o combate às alterações climáticas, mas Trump abandonou-o; o secretário de Estado não quer abandonar o acordo nuclear iraniano, mas Trump ataca-o regularmente; Tillerson defendeu ao longo do ano passado mais diálogo com a Coreia do Norte, mas, até à semana passada, Trump rejeitou-o, escrevendo uma vez no Twitter que Tillerson estava a “perder o seu tempo com o Pequeno Homem Foguetão”.