Quem não se lembra do tempo em que o padeiro andava de porta em porta todas as manhãs com pão quente e fresco para o pequeno-almoço? A tradição tem vindo a mudar e sobrevive apenas em meios mais pequenos, mas o conceito de ter pão fresco todas as manhãs sem ser preciso sair ganhou um novo fôlego: hoje, as carcaças, as bolas ou as vianinhas podem estar à distância de um clique.
Ainda assim, é preciso falar dos poucos padeiros que mantêm a rotina dos antepassados. É o caso de Amélia Ferreira, padeira de Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, que todos os dias se levanta de madrugada para fazer o pão. Tem 61 anos e começou cedo neste ramo. “Saí da escola com nove anos e já ia com uma tia com uma saca à cabeça. Com 13 anos ia a pé com uma canastra com 150 padas à cabeça”, conta.
O negócio, que tem mais de 150 anos na família, começou nas mãos do avô de Amélia, da freguesia de Ul, terra de moleiros. As padeiras moíam a farinha e coziam o pão, trabalho que a família agarrou até aos dias de hoje.
Amélia é ajudada pela filha nas horas vagas, mas receia que o negócio acabe consigo porque o trabalho é muito duro. O dia começa cedo: a padeira levanta-se às três da manhã e começa a fazer a massa, que é preparada e cozida no próprio dia. “Temos de amassar e deixar levedar”, resume. Depois é só cozer, mas nisto passaram quatro horas. Na zona onde mora, o marido começa a distribuir o pão de porta em porta por volta das 7h30 e depois desloca-se para a cidade, para uma zona, apita e as pessoas vêm buscar o pão à carrinha.
A nova distribuição Como vivemos na era da conveniência, ter pão à porta de casa fará mais sentido que nunca. Mas em vez de seguir o esquema tradicional, Marco Pombo pensou noutras ferramentas. Em 2016, numa altura de mudanças profissionais, começou a pensar num software de entrega de pão ao domicílio. Seis meses depois nascia a PãoemCasa, uma aplicação que permite aos seus utilizadores traçar um plano de entrega de qualquer tipo de pão ou bolos para o período que quiserem.
Como funciona? É simples: cada cliente consegue escolher “uma hora máxima preferencial” de entrega, “o tipo de cozedura e o tipo de pão” que pretende comprar. Posteriormente, o software gere as encomendas e os pagamentos.
Diariamente, a distribuição é feita entre as 6h e as 8h. Durante a entrega, o produto é deixado “nas caixas do correio” dos clientes. Caso morem num apartamento, os clientes colocam um saco à porta e o estafeta deixa o pão lá dentro, sem haver qualquer tipo de “contacto físico com o cliente”.
A aplicação tem uma enorme oferta de pães e cada produto disponível depende “do que na zona as pessoas gostam”. Isto porque o modelo de negócio assenta numa rede de fornecedores franquiados que abrangem diferentes zonas do país. Atualmente estão em sete distritos de Portugal continental e na ilha da Madeira, mas apenas em alguns concelhos e freguesias.
As encomendas são todas automáticas, explica Marco Pombo. “Hoje clico num botão e sai um documento para cada fornecedor”, resume. Depois de receberem o pão por parte dos fornecedores, embalam-no e passam à distribuição.
A aplicação tem tanto sucesso que atualmente, por mês, vende cerca de 140 mil pães.
Para o criador, o sucesso advém do facto de as pessoas estarem dispostas a pagar “por um produto personalizado”. Para o futuro, admite que alargar a gama de produtos disponíveis é uma possibilidade. “A tendência é pôr mais produtos relacionados com o pequeno-almoço melhorar mais a plataforma e a criar melhores facilidades”, afirmou.
“É um negócio de conveniência fantástico para os clientes finais porque usufruem de um produto bom, quando querem e à hora que querem” sem terem de sair de casa, diz.