A compra e venda de armas cresceu 10% nos últimos cinco anos, acentuando a tendência de subida que se vem notando desde que, em 2002, atingiu o nível mais baixo. De acordo com o relatório do Instituto de Investigação da Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI na sigla em inglês), ontem divulgado, Estados Unidos e China encontram–se em plena fase de reforço do seu arsenal, com ambos os países a verem crescer substancialmente o nível de exportação de armas.
As exportações da indústria de defesa dos EUA aumentaram 25% de 2013 a 2017 por comparação com os cinco anos anteriores. O maior exportador armamentista do mundo (34% do total de armas exportadas) viu a sua predominância solidificar-se em relação ao segundo maior, a Rússia (22%): a indústria de defesa dos EUA exportou mais 58% que a indústria bélica russa.
A China, apesar de contar apenas com 5,7% das exportações de armas do planeta, registou uma forte subida de 38% nestes últimos cinco anos. As vendas chinesas foram sobretudo para o Paquistão, o seu principal comprador. Entre 2013 e 2017, 70% do arsenal bélico adquirido pelo governo paquistanês veio de fábricas chinesas.
O reforço militar chinês – com o aumento do seu orçamento oficial de defesa a chegar aos 8,1% do PIB –, em conjunto com as suas exportações para o Paquistão, teve como consequência indireta que a Índia se tivesse tornado o maior importador de armas do mundo nos últimos cinco anos.
Envolvida desde a criação do Estado do Paquistão numa tensão fronteiriça que já levou a quatro guerras (uma delas não declarada) e muitas escaramuças e tensões nas fronteiras, a Índia está igualmente envolvida numa guerra surda com a China que inclui problemas de delimitação fronteiriça no planalto tibetano e de desvio de águas dos rios internacionais partilhados. Não admira, pois, que a sua importação de material militar tenha subido 24% no período de 2013 a 2017 em comparação com o período de 2008 a 2012.
E se a Rússia continua a ser o maior fornecedor da Índia, tendo as vendas de armas subido 62% nos últimos cinco anos, foram os EUA, que estabeleceram a China como o seu grande rival em termos globais, quem mais viu as suas vendas à Índia crescer no último período, com uma subida de 557%.
Desce em áfrica, sobe no médio oriente
Com as principais potências cada vez mais preocupadas no reforço e modernização dos seus arsenais (incluindo o nuclear, que o tratado de não proliferação conseguiu conter durante décadas), a indústria de defesa passou a poder contar com diversos conflitos novos ou o retomar de velhos conflitos para se expandir nestes últimos cinco anos.
A Primavera Árabe e as suas consequências e reações um pouco por todo o Médio Oriente fizeram com que a região se tornasse um grande importador de material bélico nos últimos cinco anos, com uma subida de 103% em relação aos cinco anos anteriores.
Se o continente africano viu a percentagem de dinheiro gasto em armas diminuir uns substanciais 22% (apesar do crescimento de 42% na Nigéria, a braços com a revolta do Boko Haram) – aliás, a mesma percentagem de diminuição das importações dos Estados europeus –, a Ásia e o Médio Oriente compensaram sobremaneira essa descida.
“O conflito violento generalizado no Médio Oriente e as preocupações com os direitos humanos levaram a um debate generalizado na Europa ocidental e na América do Norte sobre a restrição da venda de armas”, refere Pieter Wezeman, investigador no SIPRI. “No entanto, os EUA e os Estados europeus continuaram a ser os principais exportadores de armas para a região e forneceram 98% do armamento importado pela Arábia Saudita”, acrescenta.