Nikolai Glushkov, de 68 anos, foi encontrado morto, na segunda-feira à noite, na sua casa de Londres. Russo, fora amigo de Boris Berezovsky, oligarca que acabou por cair em desgraça junto de Vladimir Putin e também foi encontrado morto no seu apartamento, em 2013. As causas da morte nunca foram apuradas.
Glushkov parece ser mais uma das vítimas do longo braço russo que, aparentemente, olha para os dissidentes e ex-espiões como alvos a abater, estejam onde estiverem. O antigo funcionário da companhia aérea russa Aeroflot e da empresa de automóveis LogoVAZ, de Berezovsky, vivia com asilo político em Londres desde 2011.
Quando Berezovsky fugiu para Londres, Glushkov foi preso e condenado por lavagem de dinheiro e fraude, tendo passado cinco anos na prisão. Em 2011, quando serviu de testemunha no caso de Berezovsky contra Roman Abramovich, dono do clube de futebol Chelsea, que se manteve nas boas graças do Kremlin, Glushkov disse em tribunal que tinha sido feito refém pelo governo de Putin, que queria obrigar Berezovsky a vender o seu canal de televisão, ORT.
Glushkov parece juntar-se a uma lista com mais 14 nomes de russos que morreram em circunstâncias indeterminadas (ver texto ao lado) e que a ministra britânica do Interior, Amber Rudd, já mandou averiguar pela polícia e os serviços secretos. A decisão foi tomada depois de um pedido da presidente da comissão de Assuntos Internos da Câmara dos Comuns, Yvette Cooper, para que seja analisada a relação entre a Rússia e essas mortes.
“A polícia e o MI5 [serviços secretos internos] concordaram e ajudarão nessa diligência”, disse a ministra, acrescentando que as averiguações não serão feitas nas próximas semanas para não interferir com a investigação ao caso de Salisbury, o envenenamento do ex-espião britânico Sergei Skripal, de 66 anos, e da sua filha, Yulia, de 33 anos, atualmente internados em estado grave, mas estável. Contra Skripal, que esteve detido na Rússia quatro anos antes de ser enviado para o Reino Unido depois de uma troca de espiões entre os dois países, e a filha foi usada uma substância neurotóxica de seu nome Novichok, desenvolvida pela Rússia.
O governo britânico deu até à meia-noite de ontem aos russos para fornecerem toda a informação sobre o programa Novichok (desenvolvido na União Soviética dos anos 1970) à Organização para a Proibição de Armas Químicas ou, disse a primeira-ministra, o seu governo iria concluir que “esta ação equivale ao uso ilegal da força pelo Estado russo”. Theresa May vai hoje ao parlamento para apresentar o “conjunto de medidas” que irá adotar em retaliação. Fontes ligadas ao governo referiram à imprensa que estavam a ser ponderadas medidas económicas e diplomáticas para responder ao “uso ilegal da força”.
“Quaisquer ameaças de sanções contra a Rússia não serão deixadas sem resposta. O lado britânico deve compreender isso”, afirmou ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em resposta ao ultimato de Londres. Maria Zakharova, representante do ministério, deixou a ameaça: “Posso dizer que nenhum meio de comunicação britânico poderá operar no nosso país se bloquearem a Russia Today”, o canal de televisão russo que, aparentemente, poderá ser impedido de trabalhar no Reino Unido.
Sergei Lavrov, chefe da diplomacia russa, classificou as declarações britânicas como um “espetáculo de circo” e que a Rússia nada tem a ver com o caso, mas acrescentou que Moscovo colaborará com a investigação se lhe forem enviadas amostras da substância usada para envenenar Skripal e a filha (que tinha vindo da Rússia para o visitar), encontrados inconscientes num banco de jardim a 4 de março. Também o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, garantiu que a Rússia não tem qualquer informação sobre o caso e que as autoridades estariam disponíveis para colaborar.
Ontem, a embaixadora britânica em Moscovo, Laurie Bristow, foi chamada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para conversar com o vice- -ministro Vladimir Titov. O ministério negou, no entanto, que Bristow tivesse sido intimada a comparecer, afirma a edição internacional do site Sputnik.
O presidente dos Estados Unidos, por seu lado, já afirmou que condenará a Rússia se ficar provado que esteve envolvida no caso Skripal. Donald Trump, que tinha uma conversa telefónica agendada para ontem com Theresa May, acrescentou: “Parece-me que terá sido a Rússia, tendo em conta todas as evidências.”
Além de Skripal e da filha, também o polícia que os socorreu se encontra internado em estado grave, mas estável. No total, 38 pessoas relacionadas com o incidente foram observadas por médicos, sendo que a 34 foi dada alta e outro continua a ser monitorizado como paciente em regime ambulatório.