Saúde oral. “A prevenção não é cara, o que é caro é a pessoa não prevenir”

Na data em que se assinala o Dia Mundial da Higiene Oral, o médico dentista Pedro Ferreira Lopes alerta para a importância de uma saúde oral cuidada. Até porque, quando está em causa uma doença grave, “o diagnóstico precoce é essencial”

Os portugueses estão cada vez mais conscientes e alerta para a importância de um seguimento regular no dentista. Essa é a opinião do médico Pedro Ferreira Lopes, que diz ao i que há uma evidente preocupação crescente, especialmente entre as gerações mais novas.

“As pessoas mais jovens estão cada vez mais sensíveis à importância da saúde oral, particularmente os pais, que têm muito mais cuidados com os filhos e trazem-nos ao dentista por uma questão preventiva, e não corretiva”, assinala o médico, cara conhecida da televisão.

E se o argumento para a ausência de um acompanhamento regular ao nível da medicina dentária é o custo associado, apontado como incomportável por tantos portugueses, este médico dentista pensa de forma diferente. “Geralmente, o custo é proporcional ao estrago. Se a pessoa fizer uma prevenção, que requer uma higiene oral a cada seis meses – correspondente a um custo de 60 ou 70 euros, cerca de dez euros por mês –, evita e previne muitos problemas”, defende.

Para Ferreira Lopes, na maioria das vezes, os gastos “incomportáveis” associados à medicina dentária acontecem quando não há um acompanhamento regular e a ida ao dentista ocorre apenas quando há um episódio de dor ou sensibilidade.

“Uma pessoa que beba café seguramente gasta mais em cafés do que isso, por mês. A prevenção não é cara, o que é caro é a pessoa não prevenir e não ter o cuidado de manter uma boca saudável. Se só vai ao dentista numa situação-limite, aí sim, é caro”, acredita.

Cuidados a ter No dia em que se assinala o Dia Mundial da Higiene Oral importa recordar os cuidados a ter com a saúde dos dentes. Segundo Pedro Ferreira Lopes, uma ida ao dentista a cada seis meses – com higiene oral incluída – é um requisito básico. A par disso, numa dessas consultas, o médico aconselha a realização de um raio-X panorâmico. “O exame é para verificar o que se passa internamente, porque por vezes existem lesões ósseas que não causam sintomas e que nunca são detetadas se não forem descobertas através do exame”, explica.

Em casa é fundamental lavar os dentes pelos menos duas vezes por dia – de manhã e ao deitar, sem esquecer de escovar a língua –, mudar de escova de dentes de três em três meses e usar sempre uma pasta com flúor, “independentemente da marca”. Fundamental é também usar fio dentário e fazer uma alimentação saudável.

Pedro Ferreira Lopes deixa ainda um alerta: é que, entre fumadores e consumidores frequentes de álcool, estes cuidados ganham uma especial importância.

Sinais a não ignorar Seguir os cuidados básicos em casa e ser acompanhamento regularmente no dentista é essencial para prevenir e diagnosticar doenças. Igualmente importante é estar atento e não desvalorizar lesões que apareçam na boca. “Qualquer lesão que a pessoa tenha e que não desapareça no espaço de 15 dias é caso de ir ao dentista para verificar o que se passa. Normalmente, as lesões devem desaparecer em 15 dias – seja afta ou outra – e se isso não acontece é porque algo não está bem”, alerta ao i Ferreira Lopes.

E, muitas vezes, os perigos podem revelar-se mais graves do que parecem à primeira vista. “O cancro oral é uma doença que é muito pouco falada, mas é fundamental que as pessoas estejam atentas a esse tipo de lesões porque, no tratamento da doença, o diagnóstico precoce é essencial.” Dentista a exercer há 20 anos, Pedro Ferreira Lopes diz não ter feito muitos diagnósticos de cancro oral, mas admite que a incidência da doença tem vindo a aumentar nos últimos anos.

“O cancro oral é uma doença que advém muito dos comportamentos das pessoas: o consumo de álcool e de tabaco – mesmo o de mascar, por exemplo – está na base de muitos diagnósticos.” Igual perigo representam os comportamentos de risco a nível sexual – e apenas a proteção pode descartar a hipótese de transmissão do vírus do papiloma humano.