Porque as santolas e os outros animais que habitam o mar não podem revoltar-se, um grupo de cidadãos contra a prospeção e exploração de petróleo e gás no Algarve e no litoral alentejano vai fazê-lo por eles: hoje, em resposta ao primeiro furo de prospeção que “está na iminência de acontecer ao largo de Aljezur”, como assinala ao i Carla Cabrita, do movimento Stop Petróleo Vila do Bispo, uma marcha pacífica em tons de azul toma conta de Lagos (Algarve) a partir das 16h.
“Há muitas pessoas que estão contra esta questão do petróleo e que ainda não expressaram o seu descontentamento. Hoje é é um bom dia para o fazerem”, desafia Carla. A marcha, que envolve sobretudo escolas de surf – confirmada está já a presença de 19 –, quer ser um veículo de alerta e de informação.
“É recorrente descobrirmos pessoas que acham que esta questão do petróleo já acabou e que já não vão ser feitos furos, mas não é assim”, diz ao i uma das organizadoras da iniciativa. É por isso que, durante a marcha, os envolvidos prometem entregar informação às pessoas que passam sobre “como podem ter uma voz nesta luta e porque devem fazê-lo”.
E porquê o nome da marcha, “A Revolta da Santola”? Trata- -se de uma resposta direta – e que expressa indignação – às denominações dadas às concessões, explica ao i Carla Cabrita. “As concessões têm todas nomes de bichos simpáticos, como santola, lavagante ou lagosta, e o primeiro furo que está para acontecer tem o nome de santola. Achamos que as pessoas não têm muito esta perceção quanto aos nomes. Como é que alguém se lembra de dar o nome de bichos queridos e que fazem parte do mar a atividades que danificam o mar em vez de o protegerem?”, questiona.
“Uma apreciação obrigatória”
Até 16 de abril – e apenas online, na plataforma participa.pt – está aberta uma consulta prévia aos cidadãos para decidir se é necessário que a sondagem de petróleo ao largo de Aljezur seja sujeita à Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) – algo que, na visão de Carla Cabrita, devia ser obrigatório. “Uma atividade destas não pode ser pensada sem que haja uma avaliação dos impactos, não só ambientais mas também económicos e sociais… deve haver uma avaliação a uma escala muito abrangente”, defende Carla, que acrescenta que “o governo, enquanto representante máximo de todos os cidadãos, devia acautelar toda essa situação.”
Um grito pelo mar
Requisito para participar na marcha é levar roupa em tons de azul. Quanto ao percurso, está bem traçado: a marcha parte às 16h da estação de comboios de Lagos, passa pela marina da cidade algarvia e continua até à bomba de gasolina da Galp. “Aí, faremos uma breve paragem para entregar uma santola, num gesto simbólico. A ideia é sensibilizar para um maior investimento noutro tipo de energias”, explica Carla. A marcha termina depois na Câmara Municipal de Lagos, onde os organizadores planeiam entregar um manifesto com assinaturas de várias entidades ligadas ao Algarve e ao mar, para travar o projeto de prospeção e exploração de petróleo e gás. “As assinaturas que vamos entregar não são definitivas, vamos continuar a recolher mais junto de outras entidades interessadas e que têm esta consciência ambiental”, promete Carla.
“Nós não vamos parar até conseguirmos realmente alguma coisa. Queremos reverter este processo, que hoje não faz nenhum sentido. Se há muitas décadas o petróleo começou a ser usado e se nessa altura se desconheciam os seus impactos, hoje já não é assim. Hoje, já podíamos estar a apostar muito mais noutros combustíveis e estar com os fósseis enterrados”, defende Carla Cabrita. “Queremos manter o mar azul e não correr riscos de derrames e contaminações”, acrescenta.
Outras iniciativas
Depois da marcha d’“A Revolta da Santola”, o movimento Stop Petróleo Vila do Bispo, que começou em 2015, promete não cruzar os braços e continuar a lutar pelos interesses do mar, dos animais e das pessoas. Na agenda está marcada uma vinda a Lisboa, no dia 14 de abril. A partir das 15h, o grupo promete partir da Praça de Luís de Camões em manifestação até à Assembleia da República. De volta ao Algarve, o movimento está a planear um concerto no dia 26 de maio, em Sagres, com várias bandas e intérpretes, que irão juntar- -se contra a exploração de petróleo em Portugal.