O advogado formal de Rosalina Ribeiro, companheira do milionário Lúcio Feteira, garantiu hoje no julgamento em que o Duarte Lima é suspeito de se ter apoderado de mais de cinco milhões de euros que o ex-deputado era o principal advogado da mulher assassinada em 2009. A ideia mais forte do dia foi mesmo: “Duarte Lima era o advogado e eu também era advogado”.
E Valentim Rodrigues – que invocou o sigilo profissional para não responder a várias questões – chegou mesmo a justificar o facto de não haver qualquer documento ou procuração nos processos que envolviam Rosalina Ribeiro com o nome do antigo líder do PSD : “O dr Duarte Lima não iria a qualquer diligência em Portugal, penso que nunca terá feito, por isso não se justificavam procurações conjuntas”.
Segundo a acusação do MP, a vítima transferiu 5.240.868,05 euros para o seu advogado com vista a evitar que as suas contas fossem arrestadas em processos relativos à herança, nunca os tendo recuperado. No Brasil, a investigação acredita que foi uma ameaça de Rosalina – de que entregaria Lima ao tribunal – que esteve na base do seu homicídio, em 2009.
Já Duarte Lima diz que se tratou de honorários pagos de forma antecipada.
O dinheiro que acabou na esfera de Duarte Lima começou a chegar às contas de Rosalina em março de 2001. A vítima abriu uma conta em seu nome no UBS de Zurique, na Suíça, para onde transferiu quase de imediato 4,4 milhões de uma conta de que era titular solidariamente com Lúcio Feteira, então já falecido. Esse dinheiro foi transferido em três tranches: 133.778 euros; 1.014.445 euros; e 3.296.561 euros.
Mas se, por um lado, não existe qualquer procuração passada a Duarte Lima, Valentim Rodrigues recordou ontem que, por outro, foi feito um substabelecimento dos advogados brasileiros para Duarte Lima, no âmbito de diligências solicitadas pela justiça brasileira a Portugal: “Tanto quanto me recordo nos vários processos as procurações juntas aos autos são só para mim. Mas tenho memória que houve substabelecimentos de um processo do Brasil para mim e para Duarte lima”.
Uma das questões que mais importava ontem ao MP era perceber se a tese de Duarte Lima, de que os cinco milhões foram honorários antecipados, tinha sentido à luz da experiência de Valentim Rodrigues. O advogado começou por explicar que foi convidado por Duarte Lima para defender os interesses de Rosalina Ribeiro em 2000 e não respondeu de forma direta à questão: “Os inventários à partida são processos litigiosos, onde vem ao de cimo o pior que há nas pessoas. Tive um que durou 25 anos…”
Mas nem nesse, acabou por admitir, cobrou um valor tão alto, o que justifica também com o facto de o património em causa ser muito inferior ao de Lúcio Tomé Feteira.