Buenos Aires recebeu nos passados dias 19 e 20 de março a mais recente reunião do G20, grupo que reúne os ministros das finanças e autoridades monetárias das 19 maiores economias mundiais mais a UE. Foi a primeira destas cimeiras a ocorrer na América Latina, sinal que valida a crescente importância deste bloco bem como o respeito internacional pelos esforços reformistas do presidente anfitrião, Mauricio Macri. Como é hábito no final do encontro é emitido um comunicado com as principais conclusões, documento que serve para indicar as questões que prendem atualmente a atenção dos principais decisores globais.
Desde a última reunião no verão passado em Hamburgo, houve temas que deixaram de ser uma prioridade imediata, nomeadamente as questões climáticas e os desafios da emigração/refugiados que na altura estavam particularmente quentes. No seu lugar surgiram questões com impacto económico presente e futuro, como planos para infraestruturas e o fenómeno das criptomoedas. A servir de acompanhamento tivemos as menções recorrentes em torno do desenvolvimento tecnológico, os apelos à crescente coordenação internacional em matéria tributária e o reforço do comércio internacional. Neste último, e considerando a atual conjuntura instável abordada no último artigo, houve quem esperasse uma defesa mais viril do sistema atual. A ausência de uma condenação explícita aos métodos de Trump será porventura um sinal tácito de que todos entendem que tudo não passa de manobras negociais que visam no final chegar a acordo.
No prisma das criptomoedas a reação também ficou aquém do esperado. Em vez de uma rejeição liminar do seu papel no ecossistema financeiro, o G20 optou e bem, por uma postura mais tolerante. Notou algumas questões em torno de ser um veículo que pode – como tantos outros – permitir atividades ilícitas, mas não esqueceu de referir o potencial que estes sistemas descentralizados têm para contribuir para um sistema económico mais justo e inclusivo, por via das características de autorregulação e registo da tecnologia subjacente, a blockchain.
Porém foi o parágrafo referente à infraestrutura que assumiu maior relevância neste comunicado. O trecho realça a importância da infraestrutura para o aumento da produtividade e crescimento inclusivo de longo prazo. Os decisores mundiais estão a levar a questão a sério, concentrando-se na raiz do défice de investimento nesta área – o seu financiamento. A liderança do estado é tida como essencial, mas igualmente importante será a criação de mecanismos que atraiam e facilitem a participação de privados. Ora, existe claramente um ponto de confluência entre Estados endividados – que necessitam de parceiros para atingir as suas metas de investimento – e investidores privados que procuram diversificação de ativos num mundo de rendibilidades historicamente baixas.
Resta agora construir uma ponte eficaz que una os dois lados. A uniformização de questões contratuais e regulatórias é crucial para dar confiança aos privados, o que por sua vez permitiria também um escrutínio público mais simples que mitigasse os riscos de captura por interesses rentistas. Esperemos que deste modo se evite o triste exemplo que testemunhamos em Portugal na década passada, onde um conceito eficiente para infraestruturas – as PPP – foi completamente desfigurado pelo conluio entre rentistas e os governantes da época.
*Gestor de portfolio multi-activo no BIG – Banco de Investimento Global