Água. Ainda sai ouro das torneiras

A água é sinónimo de vida e a possibilidade de ficarmos sem este bem é uma grande preocupação.

No mês em que se assinala o Dia Mundial da Água o tema da escassez volta a estar em cima da mesa. Em Portugal, há especialistas que defendem um aumento da tarifa da água para reduzir o consumo. A ideia vai ao encontro do que já foi defendido pelo ministro do Ambiente: Matos Fernandes admitiu que, “em tempos de escassez”, é necessário repensar o preço.

Mas afinal a água é ou não um direito humano? Foi a partir desta questão que, em agosto do ano passado, começou novamente a polémica em torno da privatização da água. A questão foi levantada, há uns anos, por um dos ex-CEO da Nestlé e, apesar de muitos se terem revoltado contra a perspetiva de Peter Brabeck-Letmathe, a ideia não podia ser mais simples: a água devia passar a ser tratada como qualquer outro produto, a obedecer à lei da procura e da oferta.

“A água de que cada um precisa para a sobrevivência é um direito humano, e deve ser disponibilizada a todos, onde quer que estejam, mesmo que eles não se possam dar ao luxo de pagar por isso. No entanto, também acredito que a água tem um valor. As pessoas que usam a água canalizada para a sua casa para irrigar o relvado, ou lavar o carro, devem arcar com o custo da infra-estrutura necessária”, afirmava em 2005.

A verdade é que há quem dê à água o nome de ouro azul. Em 2016, estudos da ONU e da Unesco revelaram que, se o consumo de água continuasse nos mesmos padrões em todo o mundo, o défice chegaria a 40% já em 2030. Além do problema dos desperdícios, outros dos alertas tinha a ver principalmente com a poluição. De acordo com as análises feitas, torna-se cada vez mais caro tratar a água para que possa ser consumida.

Mas ainda há mais. Vários especialistas chamaram a atenção mundial, em 2012, ao considerarem que a escassez de água pode vir a causar conflitos vários no futuro. Até porque dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) mostravam que a procura mundial de água aumentaria 55% até 2050. A previsão era ainda feita com base em dados assustadores: de acordo com os especialistas, caso não fossem tomadas medidas apertadas para reverter os padrões de consumo mundial, nesse ano, 2,3 bilhões de pessoas não teriam acesso à água.

E as consequências podem ser trágicas.

Há anos que parte da população mundial consome água contaminada. Outros não conseguem ter água suficiente para o desenvolvimento industrial e para as plantações. As conclusões fazem parte de um dos relatórios sobre a crise da água elaborado pela Organização das Nações Unidas que, além de confirmar que o futuro pode ser trágico – caso não haja uma mudança nos hábitos das populações –, evidencia que o problema da falta de água já afeta milhares de pessoas em todo o mundo.

Um dos alertas de maior dimensão vai no sentido de sublinhar que as mudanças climáticas desempenham papel fundamental em todo este quadro. Embora seja difícil antever o que vai acontecer ao clima, existem cada vez mais previsões para aumento de condições extremas, como cheias, furacões e tornados. Um cenário que preocupa os especialistas, pois esses fatores podem aumentar a quantidade de lixo acumulado em fontes de água. Já o aumento da temperatura global também pode, de acordo com a análise feita pela ONU, piorar a qualidade da água.

Além disso, há outros problemas a preocupar os especialistas. Um outro relatório, desta vez da Organização Mundial de Saúde (OMS), refere que a escassez é apenas parte do problema. A contaminação e a degradação dos ecossistemas aquáticos já fizeram muitas vítimas em todo o mundo. Por ano, mais de cinco milhões de pessoas são atingidas por problemas de saúde que decorrem da ingestão de água contaminada ou do contágio por insetos que estão em contacto com as águas poluídas.

Mas há números recentes que explicam mais do que qualquer tese ou livro. Deixamos aqui alguns:

– 20% das reservas de água do mundo são sobre-exploradas.

– Em média, um americano consome 540 litros de água por dia. Na maioria dos países europeus, em média, o consumo varia entre 200 e 300 litros por pessoa. O consumo é de 15 litros em países como Moçambique.

– Nos últimos 100 anos, estima-se que cerca de 71% das zonas húmidas naturais tenham desaparecido na sequência de atividades humanas.