DJD – Sol. O novo homem na cabine de controlo do Goldman Sachs

O Goldman Sachs, banco de investimento com mais de 150 anos e olhado por muitos como a mais poderosa instituição financeira – e não só – a nível mundial, vai mudar de CEO. David Solomon, disc-jockey, colecionador de vinhos e esquiador nos tempos livres, é o senhor que se segue.

Lloyd Blanfkein estava para ficar e só o diagnóstico de um cancro linfático o fará sair. A data não é certa, mas tudo aponta que será ainda este ano. Gary Cohn estava na calha para lhe suceder, mas cansado de esperar aceitou o cargo que o presidente dos EUA, Donald Trump, lhe ofereceu como conselheiro económico da Casa Branca. Depois de uma disputa apertada com Harvey Schwartz, que acabou por deixar a empresa, será David Solomon a liderar o Goldman Sachs, o banco de investimento que se tornou na mais poderosa instituição financeira internacional. Fundado em 1869 em Nova Iorque, é hoje uma das principais empresas globais de banca de investimento, gestão de valores mobiliários e de portefólio de investimentos. Para além disso o banco é conhecido por montar uma rede de influência colocando ex-colaboradores em lugares chave do sistema financeiro internacional ou contratando anteriores políticos. Por exemplo, Durão Barroso, que depois de deixar a presidência da Comissão Europeia se tornou presidente não-executivo da Goldman Sachs Internacional. Ou o atual presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, que foi vice-presidente do banco de investimento entre 2002 e 2005. Mas há mais. Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra; Steve Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA; Malcom Turnball, primeiro-ministro da Austrália têm em comum o facto de terem passado pelo Goldman Sachs, muitas vezes referido como apenas Goldman, que teve na liderança nomes como Henry Paulson, secretário do Tesouro de George W. Bush; Rober Rubim, que ocupou o mesmo cargo com Bill Clinton, ou ainda Sidney J. Weinberg, detentor desta mesma pasta na administração de Franklin D. Roosevelt. «Se uma raça de extraterrestres invadisse a Terra e criasse um novo sistema económico, ainda assim o seu líder contrataria alguém do Goldman Sachs», escreveu um colunista do The Washington Post no início deste ano. Neste caso seria David Solomon, 56 anos, visto como um «outsider», que rompe com a tradição e mas sem alterar muito a política da empresa. 

Mais político, mais diplomata, mais empenhado na cativação de clientes e mais preocupado com o bem-estar dos funcionários, está longe do estereótipo de banqueiro de investimento e do mundo da alta finança.

Gastronomia e Vinhos

Solomon tem vários passatempos que não esperaríamos encontrar em alguém com o seu perfil, como Disc-Jockey (DJ) – ocupação que começou por ser «um hóbi e agora é uma pura diversão»; e que o tem levado a atuar em clubes, discotecas e festas de Nova Iorque a Miami, passando por ilhas nas Caraíbas sob o pseudónimo de DJ D-Sol. Além do gosto pela música e por festas, a sua presença frequente nos melhores restaurantes, valeu-lhe em 2010 a distinção como Mr. Gourmet da Sociedade Bacchus America. Outra faceta, menos conhecida, é a de enófilo, uma atividade a que se dedicou com seriedade. Em 2016 processou um ex-assistente pessoal, Nicolas De-Meyer, por roubar vinhos no valor de 1,2 milhão de dólares da sua coleção particular. 

Um amigo de Solomon disse que este está ao mesmo «excitado» e «nervoso» com a perspetiva de suceder a Blankfein, apesar de a estratégia do Goldman Sachs já ter sido definida, num plano traçado pelo próprio e por Schwartz, apresentado à direção ainda em 2017. Este passa por gerar cinco mil milhões de dólares de receitas extra a partir de 2020, com a expansão da atividade do Goldman em cidades de média dimensão, como Dallas e Seattle, e com o reforço da operação de crédito ao consumo. Mas ninguém espera mudanças radicais na empresa. David Solomon está no Goldman Sachs desde 1999. 

A sua experiência anterior tinha sido na Drexel Burnham Lambert, a firma de Michael Milken, que trabalhava com junk bonds [dívida de alto risco] e faliu quando Milken foi preso por transações ilegais, em 1990.

Solomon mudou-se então para a Bear Stearns, que também entretanto faliu. Nove anos depois aceitou, apesar de o fazer num cargo inferior aos anteriores, entrar no Goldman, «um ícone no mercado financeiro».

No banco, Solomon é responsável pela iniciativa de contratar mais mulheres, até que se atinja a paridade nos quadros e é também um defensor de um ritmo de trabalho mais razoável. Se bem que, para o futuro CEO do Goldman, razoável é uma jornada de trabalho de, no máximo, 70 horas por semana, qualquer coisa como 12 horas nos dias de semana e mais 10 horas no sábado. Isto se os colaboradores do banco não estiverem envolvidos em negociações com clientes, por exemplo em IPO – colocação de empresas em bolsa – ou aquisição de companhias. Nesses casos, a regra é virar as noites que forem precisas. Esta política é um progresso em relação à cultura do Goldman e mesmo da banca de investimento em geral. Segundo um colunista da Vanity Fair, Solomon, quando percebe que os analistas e /ou sócios juniores estão a trabalhar horas ‘a mais’, chama-os e ordena que parem. Durante toda esta batalha pela sucessão, circulava uma piada. Não havia qualquer risco de o senhor que se seguisse a Blankfein não ser homem, branco e careca. Cohn, Schwartz e Solomon são-no. Mas este último tem muitas vezes auscultadores na cabeça e terá de girar muitos pratos na música do 150.º aniversário do Goldman Salchs, em 2019.