A comunidade judaica britânica manifestou-se ontem contra o líder trabalhista Jeremy Corbyn, acusando-o de não fazer o suficiente para dissipar as bolsas de antissemitismo no partido e, mais negativamente, de ter transportado para a sua chefia uma “ideologia de extrema-esquerda instintivamente hostil” aos judeus. Corbyn admite que existem “bolsas de antissemitismo no interior do Partido Trabalhista” e no domingo pediu desculpa pelas ofensas à comunidade. “Temos de erradicar isto do nosso partido e movimento”, afirmou o líder trabalhista num comunicado, publicado domingo.
Ao longo da tarde de ontem organizaram-se protestos contra e a favor da liderança trabalhista de Corbyn – alguns deputados do Labour participaram nas manifestações críticas, pondo a nu as fraturas internas. A crise nasce de um comentário que Corbyn escreveu no Facebook em outubro de 2012 e no qual o então deputado protestava contra a limpeza de um mural em Londres do artista Mear One. O mural retrata um grupo de oligarcas com narizes grandes, supostamente judeus, jogando Monopólio e contando dinheiro nas costas nuas e vergadas de um grupo de pessoas. Corbyn diz que o seu comentário surgiu apenas sob a ótica da liberdade artística e de expressão, e confessa que não olhou com atenção para a “imagem profundamente perturbadora”.
Duas das principais organizações judaicas britânicas não se mostraram convencidas e ontem convocaram protestos contra o que dizem ser a “gota de água” na conivência do Labour com temas antissemitas. O Conselho da Liderança Judaica e o Grupo de Representantes dos Judeus Britânicos argumentam que Corbyn aproximou o partido de uma perspetiva ideológica que demoniza Israel e que a sua participação passada em comícios do grupo libanês Hezzbollah é um sinal disso. Existem, no entanto, exemplos mais recentes da corrente antissemita no partido. No verão do ano passado, por exemplo, o Labour conduziu uma investigação interna na qual concluiu que entre os seus militantes existem bolsas de “ignorância” em relação a temas judeus, reagindo ao escândalo causado pelo orador trabalhista que num comício mostrou dúvidas sobre o Holocausto.
“No melhor dos casos, isto deve-se à obsessão da extrema-esquerda e com o seu ódio ao sionismo e Israel”, escrevem os grupos em comunicado. “No pior, sugere uma perspetiva mundial conspiratória segundo a qual as comunidades judaicas são uma entidade hostil e um inimigo de classe.”