Tomás Melo Gouveia já faz top-10 num trajeto diferente de Ricardo

Tomás Melo Gouveia obteve esta semana a sua melhor classificação de sempre no Pro Golf Tour, uma das terceiras divisões da Europa, escalão ao qual acedeu no final do ano passado, ao superar a Escola de Qualificação.

O irmão mais novo de Ricardo Melo Gouveia só se tornou profissional após concluir a temporada amadora de 2017 e ainda chegou a pensar em manter-se para sempre amador.

A ideia original consistia em conciliar a competição com uma carreira empresarial, mas depois de um estágio profissional numa empresa em Lisboa, optou por seguir os passos do “mano” mais velho e não se tem dado nada mal, embora ainda esteja longe de poder fazer-lhe companhia no European Tour, a primeira divisão europeia.

Quem o viu dominar durante uma época e meia o circuito amador português, com vitórias na Taça da FPG/BPI em 2016 e 2017, bem como o Campeonato Nacional Amador Peugeot em 2017, poderá sentir que levou algum tempo a Tomás Melo Gouveia assentar enquanto “pro”, mas os seus resultados, embora discretos, têm sido encorajadores, com dois picos de grande nível.

Em dezembro sagrou-se vice-campeão do 1º San Lorenzo Classic, na “sua” Quinta do Lago, com 9 pancadas abaixo do Par, voltas de 68 e 67, e um prémio de 1.300 euros, o mais elevado da sua ainda muito curta carreira.

Note-se que o Portugal Pro Golf Tour distribui 10 mil euros por cada torneio e esta temporada tem captado jogadores de bom nível, habituais do Challenge Tour, Alps Tour, Pro Golf Tour, EuroPro Tour e Jamega Pro Golf Tour. 

Três meses depois, nesta terça-feira, dia 27 de março, Tomás Melo Gouveia alcançou o seu melhor resultado e classificação no Pro Golf Tour, com um bom 8.º lugar no Open Océan, de 30 mil euros em prémios monetários, disputado em Marrocos.

O ainda campeão nacional amador somou 205 pancadas, 8 abaixo do Par do Golf de L’Océan, em Agadir, após voltas de 71, 66 e 68.

A segunda volta de 66 (-5) foi a sua melhor ronda neste circuito germânico que nos primeiros meses do ano viaja para terras do norte de África e do Médio Oriente, em parceria com o Atlas Pro Tour, à espera que as condições meteorológicas melhorem na Europa central e do norte.

“O tempo esteve espetacular, sempre com céu limpo e muito calor, temperaturas acima dos 25 graus, por vezes com um pouco de vento”, contou ao Tee Times Golf o golfista de 23 anos.

O prémio de 756 euros foi o seu melhor da época neste circuito, o segundo melhor da sua carreira depois do tal 2.º lugar no Algarve, e deverá permitir-lhe subir pela primeira vez ao top-50 do ranking do Pro Golf Tour. No final da temporada o top-5 ascende ao Challenge Tour, a segunda divisão europeia.

Em 2017, Pedro Figueiredo, um grande amigo da família Melo Gouveia, foi o primeiro português a conseguir subir ao Challenge Tour via Pro Golf Tour e Tomás não enjeita esse sonho: “claro que o top-5 neste tour no final do ano saberia bem”, mas não é essa a sua ambição primordial.

“O meu principal objetivo para este ano é conseguir melhorar continuamente o meu jogo, aprender muito, habituar-me a jogar em posições que me são estranhas e desconfortáveis. Na minha opinião, a vida de profissional é um processo longo e contínuo, e por isso não devemos querer que tudo de bom aconteça logo rapidamente”, afiançou.

Com efeito, o facto do seu irmão Ricardo ter conhecido uma ascensão meteórica até ao top-100 mundial quando se tornou profissional, não quer dizer que seja esse o único trajeto possível e Tomás segue um caminho distinto.

“A transição de amador para profissional é um pouco complicada, muita coisa muda, e por isso é preciso haver um período de adaptação e familiarização com este novo escalão”, explicou, sabendo que, por exemplo, como amador também só despontou mais tarde do que a maioria, atingindo o auge depois dos 20 anos.

Toda a sua progressão no Clube de Golfe de Vilamoura, nas universidades nos Estados Unidos, nas seleções nacionais amadoras da Federação Portuguesa de golfe, foi lenta mas sustentada. É isso que pretende desta sua aposta no profissionalismo.

“Usei os torneios do Portugal Pro Golf Tour como preparação para esta época do Pro Golf Tour. Os resultados não foram os melhores, mas o mais importante foi ter-me dado ritmo e competição – o que mais preciso agora. Por isso, considero ter sido muito positivo”, declarou, referindo-se aos torneios no Algarve, entre novembro e março.

“Relativamente ao início de época no Pro Golf Tour, tem sido com altos e baixos, mas o golfe é assim. Não tenho estado muito consistente, mas eu estou numa fase em que preciso de aprender muito e jogar torneios para conseguir melhorar e tornar-me num jogador mais completo. Estou a gostar muito de jogar este tour, tem muito bom nível e os jogadores são muito simpáticos”, asseverou.

Até ao momento jogou seis torneios e só passou o cut em dois, pois tinha sido 34º (empatado) em fevereiro, no Open Casa Green, em Casablanca, com 4 abaixo do Par, embolsando 332,5 euros.

Como encarar então esta súbita subida de forma, curiosamente na semana em que decidiu abrir uma conta de atleta no Facebook – mais um detalhe de crescente profissionalismo?

“Sentia que o meu jogo estava muito perto de ficar muito bom e mais completo. Sabia que, com disciplina, trabalho e uma dedicação constante, um resultado destes iria aparecer. Esta semana houve um clique e todas as áreas do meu jogo estiveram muito boas”, explicou.

A sua prestação teve a curiosidade de só ter sofrido 1 bogey num front nine em que somou 7 birdies, enquanto no back nine também adicionou 6 birdies mas, em contrapartida, registou 4 bogeys. Esta discrepância de bogeys explica-se pela diversidade dos três percursos de nove buracos desenhadps por Belt Collins em Agadir, designadamente o compósito deste ‘championship course’.

“É um campo muito interessante, porque os primeiros nove buracos são relativamente abertos, e com (muita) água, enquanto os segundos nove são muito estreitos, com muitas árvores e bem mais difíceis. Em geral, é um campo tradicional marroquino, relativamente curto mas em excelentes condições”, analisou.

Com 2 bogeys nos primeiros seis buracos, o torneio nem começou de feição para o profissional do ACP Golfe, mas depois tudo melhorou: “Nos primeiros nove buracos do torneio não joguei muito bem, mas consegui aguentar o resultado. A partir daí comecei a jogar um golfe excecional. Estou muito contente com este resultado mas há que continuar a trabalhar e a melhorar para que resultados como estes (ou melhores) possam aparecer mais vezes”.

A um mês do Open de Portugal @ Morgado Golf Resort, do Challenge Tour, Tomás Melo Gouveia mostrou à PGA de Portugal que é um dos candidatos a um convite, ele que no ano passado jogou a prova como amador, convidado pela FPG.

Ainda em Agadir houve mais dois portugueses mas competir, mas ambos falharam o cut fixado em -1: Tiago Rodrigues com 146 (74+72), +4, e João Zitzer com 158 (78+80), +16.

O título e o prémio de 5 mil euros foram para o suíço Benjamin Rusch, com 199 (70+62+67), -14, com uma vantagem de 2 sobre o escocês Chris Robb. As 62 pancadas do segundo dia são a sua melhor volta profissional de sempre e o objetivo do helvético é agora simples: “fazer como em 2015, ganhar três torneios do Pro Golf Tour e subir ao Challenge Tour”.

O próximo torneio do Pro Golf tour será o Open Tazegzout, de 29 a 31 de março, nas imediações, a um quarto de hora de automóvel de Agadir, estando igualmente em jogo 30 mil euros. Os mesmos três portugueses têm entrada direta.

 

Hugo Ribeiro / Tee Times Golf