ois anos de trabalho. Foi esse o tempo que Yanis Varoufakis demorou a montar a sua mais recente obra política, apresentada na segunda-feira: um novo partido com o qual pretende concorrer às eleições legislativas do próximo ano na Grécia e também às do Parlamento Europeu, utilizando a plataforma internacional que ajudou a construir nos últimos meses e que está presente em sete países da comunidade europeia – incluindo em Portugal, com o Livre.
O ex-ministro das Finanças da Grécia é uma figura que divide o país e tem também os seus apoiantes e detratores um pouco por toda a Europa, depois da sua passagem pelo Governo helénico em 2015. Varoufakis foi o responsável pelas contas públicas da Grécia durante cinco meses depois de o recém-formado Syriza ter chegado ao poder com um mandato para renegociar o memorando de entendimento com a troika que tirou a Grécia da bancarrota.
Depois de um referendo sobre negociações com os credores – cuja maioria dos votos foi pelo «não»-, o líder do Syriza decidiu aceitar a proposta europeia. Varoufakis deixou o executivo e diz agora que não fala com Alexis Tsipras, além de criticar o seu sucessor Eulcides Tsakalotos, que diz «não reconhecer» por se ter tornado num «yes-man».
A sua passagem pela ribalta da política europeia levou a que fosse considerado o ministro que teve coragem de ir contra a política que enquadrou o resgate à Grécia; ou o governante populista e demagogo que fez o país perder milhões de euros por ter tentado recusar a austeridade que, neste momento, permite à Grécia estar a recuperar a sua economia.
Em Atenas, no início da semana, Yanis Varoufakis apresentou o seu novo partido – o MeRA25 (Frente Europeia de Desobediência Realista) – como o partido da «desobediência responsável» aos ditames económicos da União Europeia (UE) que, na sua opinião, tornaram a Grécia numa «colónia de credores».
De acordo com o site oficial do partido, a «descrição ‘Frente Europeia de Desobediência Realista’ é uma tentativa de encapsular a filosofia do partido» e tem como base uma ideia filosófica de que «sem desobediência, não haverá um regresso à realidade nem uma real alternativa às atuais políticas geridas por homens irracionais que promovem ideias absurdas».
Para o economista e professor universitário, a escolha está entre os jovens gregos viverem «com 400 euros por mês ou emigrar» e que «apenas com cortes na dívida, como nos vêm prometendo», não voltarão ao país. «Quando o nosso capital humano desaparece, ficamos despojados», afirma.
Varoufakis defende, em alternativa, a reestruturação da dívida do país para com os credores europeus e a emissão de novos títulos, cujos juros ficarão ligados ao crescimento económico da Grécia.
Segundo o ex-ministro, o Estado, bancos, famílias e empresas gregas estão na bancarrota. «Toda a gente deve dinheiro a toda a gente e ninguém pode pagar», afirma. «O país tornou-se um campo de batalha, expondo as fraquezas financeiras da União Europeia e a sua incapacidade de lidar com a crise dos refugiados», lê-se ainda no site do partido.
No seu programa político, o MeRA25 propõe também uma empresa pública que gerirá os maus empréstimos, a redução do IVA e o corte nos impostos.
Às eleições legislativas gregas do próximo ano concorrerão diversos partidos que, nos últimos anos, abandonaram a formação do Governo, o Syriza. Para entrar no parlamento, o MeRA25 terá de conquistar pelo menos 3% dos votos.
A sua entrada na política grega faz parte da estratégia do movimento DiEM25 – Democracy in Europe Movement 2025 -, apresentado há dois anos em Berlim, que tem como objetivo uma maior transparência e democracia da Europa e das suas instituições. Varoufakis aponta como exemplo o Parlamento Europeu, o «único que não pode iniciar processos legislativos».
O DiEM25 está a formar uma rede de partidos associados para concorrer às eleições ao Parlamento Europeu – para a próxima legislatura os eurodeputados votaram contra a possibilidade de listas transnacionais – entre os quais se encontram, além do português Livre, o francês Génération.s, o dinamarquês Alternativet ou o polaco Razem.
O objetivo destes partidos é simular uma lista transnacional apresentando um manifesto comum e candidatos nos diferentes países.
Para além de Varoufakis, destaca-se no DiEM25 a presença de Julian Assange, fundador da WikiLeaks, de quem o político grego é amigo e cuja presença é justificada pelo alegado papel da Wikileaks na promoção da transparência.
Só que, e mesmo dentro do movimento, há muitas pessoas que olham para Assange como uma figura antidemocrática devido à acção do Wikileaks na campanha eleitoral dos EUA, durante a qual a candidata Hillary Clinton, que viria a perder para Donald Trump, foi criticada por Assange.
O regresso de Varoufakis à ribalta chega quase três anos depois de abandonar o cargo de ministro das Finanças da Grécia, que ocupou por apenas cinco meses, mas durante os quais foi uma figura central da política europeia e da zona euro.
Yanis Varoufakis é filho de Giorgos Varoufakis, responsável por uma das maiores produtoras de aço da Grécia, a Halyvourgiki. Frequentou a Moraitis School, escola de líderes e artistas helénicos e começou a carreira nas universidades britânicas de Essex, East Anglia e Cambridge.
Em 1998 mudou-se para a Austrália e, atualmente, tem as cidadanias grega e australiana. No ano 2000, regressou à Grécia para ensinar na Universidade de Atenas e em janeiro de 2013 aceitou um cargo na Universidade do Texas, em Austin, onde se especializou em Teoria dos Jogos.