O tempo começa a passar: a partir da tentativa de indigitação falhada de Jordi Turull, a maioria independentista do parlamento catalão tem dois meses para conseguir formar governo. Findo este prazo, serão convocadas novas eleições na Catalunha.
O pronunciamento do parlamento catalão de que Carles Puigdemont e Jordi Sànchez tinham o direito a ser indigitados presidentes do governo da Catalunha indiciava que os partidos independentistas não descartavam a hipótese de forçar o confronto com o Tribunal Constitucional e o governo espanhol, e levar a votos a indigitação de Carles Puigdemont. Aparentemente, este cenário teria o apoio do PDeCAT, partido de Puigdemont, e da CUP, partido anticapitalista independentista, e as reticências da Esquerda Republicana da Catalunha, que pretende baixar a tensão e conseguir indigitar um governo independentista que não possa ser preso pela justiça de Madrid.
Agora, o líder do PDeCAT e antigo presidente da Generalitat, Artur Mas, vem baralhar de novo as coisas no campo independentista ao assumir, numa entrevista à rádio RAC1, que se deve analisar se vale ou não a pena tentar a investidura de Carles Puigdemont num momento que vários dirigentes independentistas estão presos ou exilados; e se não era melhor jogar numa solução em que se conseguia nomear um governo independentista, impedindo assim a manutenção da imposição de um governo de Madrid, com o artigo 155, sobre as instituições autonómicas catalãs.
“Puigdemont tem toda a legitimidade para poder ser investido, tem o apoio da maioria parlamentar que o investiria, é deputado e tem de poder ser eleito”, afirmou Mas em entrevista, mas sublinhando um “mas” de seu nome: que em determinadas ocasiões, “a legitimidade não se impõe a curto prazo”, e que isso poderia resultar “na abertura de mais processos penais contra pessoas”.
O antigo presidente do governo catalão, a que sucedeu Puigdemont, alertou também na entrevista: “Agora estamos também numa situação totalmente injusta em que uma pessoa que tem o direito a ser investida está impedida do ser. É criticável e tem de se impedir esta situação, mas [contando] com a força que temos”, argumentou.
Por sua vez, o líder independentista detido na Alemanha e a aguardar desfecho do processo de extradição para Espanha, Carles Puigdemont, defendeu numa mensagem divulgada nas redes sociais que, “seis meses depois do referendo de 1 de outubro, o governo da Catalunha são presos políticos, mas livres de espírito”, acrescentando na mensagem: “Aquela jornada de dignidade popular e barbárie policial foi o início de uma nova era da qual não há retorno possível.”
Numa outra mensagem divulgada nas redes sociais, Puigdemont manifestava a sua vontade de ir até ao fim na luta pelos seus direitos políticos e da possibilidade de ser indigitado presidente do novo governo catalão: “Não claudicarei, não renunciarei, não me retirarei.”
O presidente do último governo autonómico catalão encontra-se há uma semana detido na Alemanha e está atualmente na prisão de Neumünster. Segundo o calendário do processo aberto pela emissão de uma ordem internacional de detenção pelo juiz Pablo Llarena, está previsto que, na próxima terça-feira, a Procuradoria-Geral de Schleswig-Holstein tome uma primeira posição sobre a sua extradição para Espanha, num processo que, esgotando todas as instâncias, poderá durar cerca de 90 dias.