Pouco depois de abrir a Eurodisney, em Paris, um amigo foi lá passar uns dias com a família e quando regressou estava maravilhado. Contou-me que parecia que tinha estado mesmo no país da fantasia, que os funcionários do parque e do hotel eram extremamente simpáticos e encarnavam os seus papéis na perfeição. Embora já não fosse nenhuma criança fiquei cheia de vontade de lá ir e sonhava com os panfletos que ele me trouxe. Quando finalmente lá fui, apesar de ter adorado a visita, não encontrei as mesmas pessoas que tinham encantado o meu amigo. Fosse por não ter pernoitado naqueles hotéis, por a minha expectativa ser demasiado alta ou por o entusiasmo dos trabalhadores se ter desvanecido com os anos, decididamente estes não eram os mesmos.
Sempre fui muito sensível à magia dos sítios dedicados às crianças em que estas são recebidas com satisfação por pessoas que partilham a sua alegria de viver. Todas as lojas de brinquedos, por exemplo, só por si têm um encanto natural. Mas infelizmente, embora haja agradabilíssimas exceções, cada vez mais quem lá trabalha raramente contribui para o prazer da visita. Geralmente são pessoas sérias, que se enervam com o rebuliço das crianças e se impacientam com aquelas pequenas mãozinhas a mexerem em tudo. Muitas vezes parecem os seguranças dos museus que nos perseguem para ter a certeza que os nossos filhos não danificam nenhuma valiosa obra de arte. Mas as lojas são precisamente o oposto dos museus. Têm coisas feitas em série, com milhares de exemplares, coisas essas que se encontram à venda e, muitas vezes, expostas para que as crianças as testem. Além disso, quer queiram quer não, essas lojas vivem das crianças e para as crianças.
O mesmo se passa nas livrarias. De vez em quando visitamos uma livraria no Saldanha onde cada um, grande e pequeno, sai com um livro na mão. Há vários livros expostos para serem consultados num espaço reservado às crianças e eles adoram ver o que há de novo. Porém, desde que chegamos até sairmos sinto uma inquietação e mau humor da pessoa que está a atender. Embora os nossos filhos nunca tenham estragado nada, mexem nos livros e mudam-nos de sítio – e sinto que isso exaspera o empregado. Da última vez, a loja estava vazia mas ficámos um quarto de hora na caixa à espera para pagar, com três crianças e um bebé já impacientes, porque a senhora achou que devia voltar a colocar os livros no sítio certopara nos fazer sentir culpados, enquanto suspirava, antes de nos atender.
Infelizmente episódios como este são um clássico e acontecem em vários locais. Os empregados ficam desesperados com a desordem naturalmente esperada numa loja para o público infantil e fazem com que os clientes se sintam desconfortáveis e mal vindos. Provavelmente o problema nem é dos funcionários mas de quem os escolhe. Ninguém é obrigado a ter paciência para crianças ou para a sua inquietude. Mas quando se trabalha numa loja de brinquedos convém ter outra postura. Talvez esses funcionários dessem ótimos militares ou polícias de trânsito ávidos de passar multas aos infratores, mas definitivamente aquele não é o sítio certo para eles, nem para nós enquanto eles lá trabalharem.