O movimento antifascista português reagiu, em comunicado, à análise das atividades da extrema-direita presente no Relatório Anual da Administração Interna de 2017, afirmando que "esta crescente onda de violência é algo que para nós não é novidade ou surpresa", acrescentando que nos últimos anos tem vindo a "denunciar, organizar para fazer frente à violência gratuita, racista e xenófobas".
"Neste momento existem vários grupos antifascistas em Portugal, de norte a sul, que tem sensibilizado ao longo dos anos as pessoas para este problema, mas têm sido desacreditados por pessoas e partidos que minimizam a luta antifascista e que em muitos dos casos os mesmo se dizem antifascistas", pode ler-se no documento.
Os antifascistas chegam mesmo a apontar o dedo aos grupos e partidos que consideram ser de extrema-direita e uma ameaça. "Mais uma vez a realidade vem provar que o que temos vindo a falar/denunciar sobre grupos como os Hammerskins ou partidos como o Partido Nacional Renovador ou o mais recente Nova Ordem Social", afirmam.
Os movimentos antifascistas não são movimentos homogéneos, bem pelo contrário, e o português parece não ser exceção. "Somos antifascistas de diferentes faixas etárias, de vários pontos do País, com visões politicas muitas vezes distintas, mas com uma ideia e luta em comum :antifascismo", afirmam. Os antifascistas também recusam ser comparados com os grupos de extrema-direita: "não somos criminosos, apelamos à tolerância, queremos combater o racismo, xenofobia, machismo e qualquer tipo de opressão".
Numa breve referência às atividades que o movimento realiza para combater a extrema-direita encontram-se os "concertos, palestras e projecções de documentários", bem como a organização e participação em manifestações e concentrações. Por vezes, é também possível ver pelas ruas do país alguns autocolantes ou pinturas de stencils com slogans e imagens antifascistas.
No entanto, as autoridades policiais também se mostram preocupadas com os movimentos anarquista e autónomo, commumente partes integrantes dos movimentos antifascistas, por se manterem "ativos na luta contra o sistema". "Isso ficou patente na mobilização para a contestação violenta à cimeira do G-20 na Alemanha ou na proliferação de ações diretas violentas por diversos países, visando alvos associados ao capitalismo, ao Estado ou aos seus alegados 'instrumentos de repressão'", diz o relatório.
Os movimentos antifascistas ganharam uma maior notoriedade na sequência dos confrontos entre antifascistas e neonazis em Charlottesville, na Vírginia, Estados Unidos, quando um elemento de extrema-direita avançou contra uma multidão de manifestantes ao volante de um carro, matando uma manifestante.
Extrema-direita preocupa autoridades
Na semana passada foi entregue na Assembleia da República o Relatório Anual da Administração Interna de 2017, que sintetiza a situação criminal no país. As atividades e grupos de extrema-direita são commumente referidos nestes relatórios anuais. Neste último, pode ler-se que "a extrema-direita, através de um discurso identitário, desenvolve uma retórica essencialmente orientada para a rejeição da imigração e da islamização, em nome da preservação da cultura, dos modes de vida, da segurança e do bem-estar económico dos povos europeus".
"Nas suas formulações mais radicais propõe-se reabilitar o nacional-socialismo e o fascismo como alternativas políticas válidas, com reflexos evidentes na militância organizada", afirma o documento. É neste sentido que a extrema-direita portuguesa, mesmo que no panorama nacional não tenha o mesmo impato que noutros países europeus, tem vindo a "aproximar-se das principais tendências europeias, na luta pela 'reconquista' da Europa pelos europeus".
Para isso, tem intensificado os "contatos internacionais" e desenvolvido um "esforço de convergência" em que as suas principais atividades são tanto via internet, como conteúdos de propaganda, como físicos, como "concertos, conferências, apresentações de livros e protestos simbólicos". "Não obstante o maior peso desta vertente ativista, a violência permaneceu como um traço marcante da militância de extrema-direita, havengo registo de alguns incidentes, nomeadamente agressões a militantes antifascistas", diz o RASI 2017.