O Instituto para Investigação de Políticas Públicas (IPPR na sigla em inglês) propõe uma ideia inovadora para combater um fenómeno que está a afetar a sociedade britânica, o fosso cada vez maior entre ricos e pobres. Diz este think tank progressista que “os 10% de famílias mais ricas possuem mais de dois terços da riqueza financeira” e “é provável que as tendências económicas, incluindo a automatização e a ascensão das plataformas digitais, venham a amplificar esta força de divergência”.
Para o think tank, o governo britânico devia agir para contrariar esta tendência e criar um fundo, o Fundo de Riqueza dos Cidadãos, que permitisse começar a distribuir, a partir de 2030/31, dividendos no valor de 10 mil libras (11 370 euros) a todos os cidadãos de 25 anos nascidos no Reino Unido.
“O Fundo de Riqueza dos Cidadãos do Reino Unido poderá valer 186 mil milhões de libras (211,5 mil milhões de euros) em 2029/30, se for capitalizado a partir de 2020/21 usando uma mescla de venda de ativos, transferências de capital, novos fluxos de receitas, uma pequena percentagem de empréstimos e rendimentos reinvestidos durante a década”, lê-se no documento, ontem divulgado no site do instituto, intitulado “Our Common Wealth” (a nossa riqueza comum).
Este fundo soberano, propriedade dos cidadãos e gerido em função dos seus interesses, é uma das formas recomendadas pelo IPPR para combater o aprofundamento da desigualdade – a juntar ao aumento do poder de reivindicação do trabalho e à taxação mais eficiente do capital e do rendimento do capital, cujas receitas ajudarão a redistribuir a riqueza e o rendimento.
Essa eficiente taxação do capital seria então uma das maneiras de financiar este fundo, que garantiria no começo da década de 2030 o mínimo de herança aos jovens de 25 anos para que pudessem investir no seu futuro.
“Um Fundo de Riqueza dos Cidadãos poderia igualmente ajudar a equilibrar a riqueza entre gerações ao guardar e investir heranças inesperadas em benefício de gerações futuras que poderão não ter os mesmos fluxos de receitas”, acrescenta o documento.
“Quem é dono da riqueza e quem herdará a riqueza está a tornar-se mais importante – mais ainda à medida que a percentagem de rendimento nacional pago às pessoas através dos salários diminui”, diz Carys Roberts, coautora da proposta (com Mathew Lawrence), citada pelo “Guardian”.
Os fundos soberanos existem há algum tempo e estão mais ou menos generalizados no mundo; o que traz de novo esta proposta é a ideia de herança destinada a combater a desigualdade. Como escrevem os autores, a criação deste fundo de riqueza “transformaria uma parte da riqueza privada e empresarial em riqueza pública líquida”, criando “um veículo para os cidadãos poderem reivindicar coletivamente a economia e partilhar os incrementos no retorno do capital”.
Aos críticos, a proposta do IPPR sublinha que com uma “capitalização e administração efetivas, o Fundo de Riqueza dos Cidadãos acumularia ativos em nome de todos – incluindo as gerações atuais e futuras”.
O documento foi publicado no âmbito dos trabalhos da comissão de justiça económica do IPPR, criada em novembro de 2016, que junta empresários, sindicalistas, organizações da sociedade civil e académicos para analisar os desafios a enfrentar pela economia britânica e fazer recomendações práticas para implementar reformas.