A primeira aparição de Zlatan Ibrahimovic num relvado norte-americano tinha mesmo de ser assim: digna de Hollywood. Aos 48 minutos do dérbi com os Los Angeles FC, os Galaxy perdiam por 3-0 em casa. Ibra foi lançado aos 71’, com o resultado em 1-3, viu Pontius reduzir para 2-3 um minuto depois e, aos 77’, o primeiro momento Zlatan nos Estados Unidos: uma bomba do meio da rua, completamente sem preparação, a aproveitar o adiantamento do guardião contrário: um golo extraordinário. Los Angeles começava a ficar rendida.
Mas havia mais. Já nos descontos, Ibrahimovic antecipou-se a um defesa e, de cabeça, selou a reviravolta épica. “Ouvi os adeptos a gritar ‘Queremos o Zlatan’ e por isso, decidi dar-lhes um bocadinho de Zlatan”, disparou no fim do encontro, bem ao seu estilo, o Benjamin Button do futebol.
Esta designação, sublinhe-se, não é uma piada inventada por nós. Foi o próprio Zlatan a definir-se desta forma na apresentação nos Galaxy: “Sinto-me como Benjamim Button: nasci velho e morrerei novo. Não se preocupem com a minha idade. Quando cheguei a Inglaterra, consideravam-me velho. Três meses foram suficientes para conquistar o país.” A modéstia não é a sua principal característica – ao contrário do talento e da irreverência, que lhe irão valer certamente muitos milhões em campanhas publicitárias no país de maior dimensão mediática do mundo.
Um jogador como os outros A mudança de Ibra para os Estados Unidos causou grande curiosidade, de resto, principalmente devido a um artigo divulgado pela “Sports Illustrated” onde é revelado que o avançado aceitou baixar o salário em… 95 por cento em relação ao que auferia no Manchester United. De 21,8 milhões de euros anuais, Zlatan passou agora a ganhar 1,2 milhões por ano.
A descida é de facto abismal e explica-se com o teto salarial obrigatório definido pela MLS – Liga norte-americana. Cada clube tem direito a ter quatro elementos com ordenados que excedam esse teto – Beckham, Thierry Henry ou Gerrard foram todos para os Estados Unidos nessas condições –, mas os lugares especiais nos Galaxy já estavam todos preenchidos.
A decisão de Ibrahimovic pode ser justificada, porém, com a ambição de estar presente… na Rússia. É que o avançado, retirado da seleção da Suécia após o último Europeu, ficou entusiasmado com a qualificação sueca para o Mundial do próximo verão – eliminou a Itália nos play-off – e acalenta agora a esperança de ser chamado para disputar um Mundial pela primeira vez em 12 anos – esteve presente em 2002 e 2006, mas os suecos não mais se tinham conseguido apurar. No Manchester United, Zlatan tinha apenas sete jogos realizados esta época (só dois a titular) e não era utilizado desde dezembro; em Los Angeles, será a figura da equipa e é altamente provável que os minutos e os golos comecem a chover em catadupa. Daí à Rússia será um saltinho.