Olho por olho, dente por dente e em alta velocidade. A China respondeu à decisão dos EUA de impor tarifas a 1300 produtos chineses no valor de 50 mil milhões de dólares com uma lista de 106 produtos norte-americanos que terão taxas adicionais do mesmo montante. De acordo com dados do FMI, o número é equivalente a um terço das exportações norte-americanas para a China, mas a menos de um décimo dos produtos chineses importados pelos EUA.
O presidente dos EUA negou que haja uma guerra comercial entre as duas maiores potências económicas e comerciais do planeta, mas os mercados de todo o mundo negociaram ontem em queda, apesar de ambos os lados afirmarem que um acordo é possível. Para já, a escalada do conflito só se acentua.
A mais recente ofensiva da administração Trump tem como base alegadas violações da propriedade intelectual das empresas norte-americanas na China e está direcionada a setores de alta tecnologia para os quais Pequim olha como o futuro da sua economia.
Daí que a resposta chinesa tenha chegado 11 horas depois da lista apresentada pelos EUA. Segundo a comunicação social especializada, as taxas adicionais aos 106 produtos norte-americanos, nas 14 categorias de bens, serão de 25%.
“Os Estados Unidos têm esta intenção viciosa de estrangular a inovação de alta tecnologia da China”, decarou à agência Bloomberg o antigo vice-ministro do comércio da China e atual presidente de um think tank ligado ao governo dedicado a trocas comerciais. “A China não se vai submeter ao bullying dos EUA. As nossas contra-medidas vão atingir os seus pontos fracos”, disse Wei Jianguo.
Pouco depois Donald Trump escrevia no Twitter que os EUA não estão “numa guerra comercial com a China, essa guerra foi perdida há muitos anos pelos tolos, ou incompetentes, que representaram os EUA”. Agora “temos um défice comercial de 500 mil milhões de dólares por ano, com o roubo de propriedade intelectual de outros 300 mil milhões de dólares. Não podemos deixar isto continuar!”, acrescentou o líder norte-americano.
No entanto, como a imposição de tarifas não será feita de imediato, ainda há margem para negociação. A lista de Washington estará em consulta pública durante 60 dias, podendo ser submetidas propostas de alteração até 11 de maio. A 15 de maio haverá uma audição pública para debater os contributos. A data de entrada em vigor das medidas na lista de Pequim dependerá do calendário norte-americano.
Mas enquanto o alvo de Washington são produtos que beneficiam da política industrial chinesa, incluindo os da iniciativa “Made in China 2025”, que tem como objetivo a substituição de importações de tecnologia por produtos domésticos em indústrias estratégicas como a Tecnologia de Informação ou a robótica, Pequim parece querer infligir danos políticos.
Ao contrário da lista de Washington, repleta de itens industriais obscuros, a lista de Pequim aponta às exportações norte-americanas por excelência, entre as quais a soja, a carne, o algodão e outros produtos agrícolas cultivados em estados como o Iowa ou o Texas, que apoiaram Trump nas presidenciais norte-americanas de 2016.
Além disso, os alvos propostos pela a China estão no centro da relação comercial entre os dois países. Por exemplo, o país asiático é o maior importador mundial de soja do mundo e o maior comprador aos EUA. No ano passado o comércio destes grãos atingiu um valor de quase 14 mil milhões de dólares.
Ainda assim, o secretário do Comércio dos EUA afirmou em entrevista que a resposta da China não deverá afetar a economia dos EUA. Segundo Wilbur Ross, a resposta da China “não deveria surpreender ninguém”, uma vez que é proporcional às medidas dos EUA.
O responsável acrescentou que os EUA não estão a entrar na “III Guerra Mundial”, deixando a porta aberta para o diálogo. “Até as guerras com armas acabam com negociações”, disse Ross, admitindo que as conversações exijam algum tempo dada a sua complexidade.
Estima-se que um agravamento da guerra comercial entre os EUA e a China levaria a um abrandamento do crescimento económico mundial de 2,9% para 2,2% nos próximos quatro anos.