Viktor Orbán venceu as eleições húngaras de domingo com uma margem de votos surpreendentemente ampla e conquistou pela terceira vez consecutiva uma maioria parlamentar de dois terços, colocando-se em posição de se tornar o primeiro-ministro com mais longevidade no país.
O ideólogo nacionalista cujo pensamento orienta os países do leste europeu em deriva autoritária, porém, conquistou mais do que um novo mandato forte na Hungria. Com 50% dos votos e 70% do eleitorado nas urnas, Viktor Orbán garante o poder necessário para disputar o poder de Bruxelas, aplicar o seu programa radical de combate à imigração e acolhimento de refugiados e avançar com o projeto de concentração de poder e asfixia das instituições independentes. O seu objetivo de criar uma “democracia iliberal” na Hungria avança sem freio.
“Queremos chamar a atenção para aquilo que está a afetar o continente”, disse Orbán no domingo, festejando o fim de uma campanha que decorreu quase exclusivamente em torno do tema da imigração e na qual o primeiro-ministro húngaro afirmou que organizações liberais patrocinadas por estrangeiros, ou comandadas pelo milionário George Soros, tentam inundar a Hungria de imigrantes muçulmanos.
“Não desejamos entrar em confronto com a Europa e a União Europeia, queremos que a Europa e a UE sejam fortes e bem-sucedidos. Mas antes disso precisamos de ser honestos quanto àquilo que nos está a prejudicar”, lançou, nas celebrações de Budapeste.
As eleições de domingo vinham sendo apresentadas como as mais imprevisíveis desde a década de 1990. A oposição húngara, incapaz de formar alianças contra o Fidesz nas sondagens, chegou ao dia de eleições ainda capaz de tirar proveito dos cerca de 20% de eleitores indecisos. A grande afluência que se registou ao longo do dia, em teoria, beneficiava-a, mas as fraturas eram demasiado profundas e alguns candidatos locais de Orbán venceram com menos de metade dos votos. O primeiro-ministro triunfou acima de tudo nas zonas rurais.
Esta segunda-feira, os líderes europeus encontravam-se também divididos.
Alguns, como o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, felicitavam o líder húngaro e prometiam colaborar com o seu governo. Outros, como o líder do Partido Popular Europeu, Guy Verhofstadt, sublinhavam as suas violações do princípio da separação de poderes e os ataques e prisões arbitrárias a requerentes de asilo em trânsito pelo país.
“Ao darmos os parabéns a Orbán sem o criticarmos pelo seu desrespeito aos valores europeus estaríamos a legitimar a sua campanha vil, o seu ataque ao Estado de direito e as suas ambições autoritárias”, escrevia Verhofstadt.