Em 2002, o rei marroquino Mohammed VI casou com Salma Benani, que ficou com o título de princesa consorte e passou a chamar-se Lalla Salma de Marrocos. Desde então, eram a imagem da família real perfeita que conseguiu, pela primeira vez em Marrocos, um equilíbrio entre a tradição e a modernidade. Tiveram dois filhos: Moulay Hassan, de 14 anos, o príncipe herdeiro; e Lalla Khadija, de 11.
O casamento quebrou vários estereótipos e hábitos da cultura marroquina. O rei de Marrocos tomou a decisão de ser marido de uma só mulher e foi o primeiro monarca do país a fazê-lo. E Lalla optou por não usar o tradicional véu, tornando-se num exemplo de moda a ser seguido naquele país do norte de África.
Depois de 16 anos de matrimónio, a união dá lugar ao divórcio e Mohammed e Lalla estão oficialmente separados. O anúncio foi feito por uma fonte próxima da família real marroquina, confirmando os rumores que corriam depois de a princesa ter deixado de aparecer em público com o rei.
Quem é Lalla Salma?
Sempre foi admirada pelas mulheres do seu país por ter revolucionado o papel da mulher na família real e simbolizou durante anos uma pequena abertura e modernização. Contrariamente ao que acontecia até então com outras princesas marroquinas, que permaneciam no palácio real, longe dos olhares públicos, Lalla Salma foi a primeira a ostentar o título oficial de alteza real e a acompanhado o rei em eventos e compromissos oficiais.
A até agora princesa de Marrocos formou-se em matemática e, mais tarde, em engenharia informática numa universidade em Rabat. Trabalhou na Ona Group, uma das maiores empresas em Marrocos. A sua inteligência e o domínio de vários idiomas, como o árabe, o francês e o inglês, surpreenderam em várias ocasiões.
Lalla Salma manteve também um papel ativo nas causas sociais. Em 2017, criou a Fundação Lalla Salma – Prevenção e Tratamento do Cancro e é embaixadora da boa vontade da Organização Mundial de Saúde, funções que ainda não se sabe se continuará a desempenhar após o divórcio. Com a separação, Lalla pode mesmo perder o título de princesa e alteza real.
De príncipe herdeiro a rei
Mohammed VI nasceu em 1963 e começou a ser preparado desde cedo para assumir o trono de Marrocos. Aos quatro anos, entrou para a Escola Real Islâmica, em Rabat, onde aprendeu os ensinamentos do Alcorão. Em 1985, com 21 anos, foi indicado pelo pai, o então rei Hassan II, para ser coordenador das Forças Armadas de Marrocos e nove anos depois tornou-se o major-general da instituição.
Em 1999, Hassan II morre, depois de 38 anos à frente da família real marroquina. Mohammed, o filho mais velho e príncipe herdeiro, assume o trono e torna-se no 18.º rei da dinastia alauita, que reina em Marrocos desde 1666.
Depois do reinado do pai, período em que muitas pessoas foram mortas e torturadas pelo Governo, Mohammed quis limpar a imagem de um país manchado no campo dos direitos humanos e indemnizou as famílias das vítimas. Contudo, os culpados não foram punidos.
Mohammed VI tentou ser um rei diferente e menos conservador. Decidiu manter uma monarquia constitucional, mas com reforço dos poderes do primeiro-ministro e do Parlamento. Reformulou as leis da família para proteger os direitos da mulher no casamento. E criou um órgão consultivo para estudar mais autonomia para os Governos regionais.
É reconhecido por ter estimulado o turismo em Marrocos e ter desenvolvido infraestruturas que transformaram o país num dos principais destinos turísticos de África e numa plataforma para empresas internacionais. Sob o seu comando, a economia nacional registou índices contínuos de crescimento.
Acusação
Em 2009, a revista norte-americana Forbes colocou o atual rei de Marrocos em sétimo lugar na lista dos mais ricos do mundo, com uma fortuna de 1900 milhões de euros. Ao contrário de outros que tinham perdido com a crise financeira, Mohammed VI foi a personalidade cuja fortuna mais cresceu em 2008.
Anos mais tarde, em 2012, dois jornalistas franceses, Catherine Graciet e Éric Laurent, escreverem um livro onde acusam o Mohammed de controlar toda a economia do país, sendo «o principal banqueiro, segurador, exportador e agricultor», comandando «igualmente o setor agroalimentar, a grande distribuição e energia». O monarca foi ainda acusado de captar parte significativa das subvenções do Estado para as suas empresas.
Segundo os jornalistas, os 32 milhões de marroquinos «não são apenas súbditos, mas clientes do soberano».
* Texto editado por Mariana Madrinha